Nos quatro anos recentes, sobretudo nos artigos de fevereiro, discorri o funcionamento do ciclo Gan Zhi (o ciclo sexagenário chinês), tentando deixar claro ao público não familiarizado com essa linguagem a importância de entender a diferença entre os ditos 60 Binômios (com suas respectivas conjecturas do tempo arquetípico celeste – 10 princípios denominados como Tian Gan, e dos 12 arranjos terrestres – Di Zhi) e a genérica terminologia “zodíaco chinês”, muito imprecisa mas tão aplicada popularmente. Buscou-se, assim, instigar o leitor a ampliar a pesquisa pelo tema, procurando expandir o leque de opções para um caminho além do óbvio, das dicas rápidas e respostas diretas, como “bom ano para investimentos, o romance está no ar”, entre outras generalizações. Em outras palavras, ousadia sistêmica (heresia para alguns, nesses tempos estranhos), provocações que visavam ressignificar os “animais orientais” a um contemporâneo mais criativo-reflexivo e menos pragmático-utilitarista.
Por outro lado, aprofundar temas complexos em artigos breves, além de tarefa hercúlea, geralmente não costuma atender de maneira satisfatória ambos os grupos: tanto aos que buscam informações mais elaboradas, mas tem dificuldade em entender as premissas (geralmente introduzidas, de forma não linear, em escritos anteriores), como também, aos leitores que anseiam por tópicos mais acessíveis, com texto mais curto e estilo mais aprazível. Mas faz parte, é um risco que, tomado um partido, o autor precisa entender, se posicionar e, no mínimo, tentar jogar um bom jogo no sistema das forças.
Nesse sentido, aproveita-se o ano do Rato, aquele que abre os Ramos Terrestres – a cada 12 anos, para possibilitar novos caminhos para o entendimento. Vamos a eles.
Relembrando a Questão dos Calendários e os Tipos de Abordagem
Na China, existem duas maneiras tradicionais de se observar o ano energético:
- Calendário Lunar: sistema ancestral, é muito utilizado para comemorações populares. Baseia-se na contagem de dias entre duas luas novas. Por esse sistema, o início do ano pode se dar entre janeiro e março, exatamente na segunda lua após o solstício de inverno;
- Calendário Solar: desenvolvido por monges taoístas que possuíam grande conhecimento astronômico, é considerado mais preciso do que o calendário lunar, sendo utilizado nos meios de estudo da metafísica chinesa que requerem uma melhor acuidade. Por esse sistema, o início do ano sempre ocorre nos dias 3 ou 4 de fevereiro;
No ano de 2020, o ano novo chinês, considerando-se a longitude 45º (Brasil), será no dia 24 de janeiro tendo em vista o calendário lunar e em 04 de fevereiro, na visão solar. Mesmo sendo muitas vezes uma afinidade do estudioso considerar uma ou outra data, considero particularmente a segunda opção como a mais coerente para a maioria dos estudos técnicos, tanto de Feng Shui Tradicional quanto de Cosmologia Chinesa.
O tempo chinês é considerado de maneira cíclica, em padrões de constatação pontual (hora, dia, mês e ano) e global (ciclos de 9, 10, 12, 20, 60 e 180 anos, por exemplo, dependendo da metodologia utilizada). Existem dois tipos de linguagem utilizadas, sendo que a primeira se refere à dinâmica do Wu Xing (5 Transformações do Qi ou 5 Elementos) sob a ótica dos Troncos Celestiais (Tempo no Céu – explicitados por elementos únicos) e Ramos Terrestres (Tempo na Terra).
Wu Xing |
Madeira |
Fogo |
Terra |
Metal (Ouro) |
Água |
|
Palavras |
Movimento |
Expressão |
Segurança |
Organização |
Comunicação |
|
C |
Yang |
Criatividade |
Imagem |
Infraestrutura Paradigmas |
Ação |
Interpessoal |
Yin |
Cura |
Insight |
Base Interna |
Estratégia |
Intrapessoal |
Os Ramos Terrestres também se baseiam na infraestrutura do Wu Xing, mas ocorre uma dinâmica própria na composição dos elementos. Para facilitar o entendimento, cada um desses perfis complexos recebeu uma associação figurativa com animais, na ordem: I-Rato, II-Búfalo, III-Tigre, IV-Coelho, V-Dragão, VI-Serpente, VII-Cavalo, VIII-Cabra, IX-Macaco, X-Galo, XI-Cachorro e XII-Javali.
Como cada animal (em número de 12), se associa com um dos 10 Troncos Celestiais (5 Elementos na polaridade Yin e Yang – vide tabela acima), têm-se 60 Combinações, que representam o casamento Tempo na Terra com o Tempo no Céu. E o ano de 2020, a partir de 4 de fevereiro (na visão solar), será representado exatamente pelo Rato (Ramo) de Metal Yang (Tronco). Assim:
Descrição |
Tronco Celeste |
Ramos Terrestre |
Elemento Intrínseco |
Metal Yang (Me+) |
Rato |
Água Yin (A-) |
|
Características |
Foco, organização, ordenação, metas, critério e responsabilidade. |
Esse Animal faz parte da Casa da Criatividade, do Pensamento. Assim, um período que estimula a reflexão, a inspiração, as novas possibilidades de expressão. Pode estimular um exagero ao nostálgico, à fé místico-religiosa exagerada. |
Profundidade, comunicação intrapessoal, aprofundamento de si. Se não for bem trabalhado, pode estimular a reclusão, a melancolia, a hipersensibilidade emocional. |
Desafios Estruturais |
Aos que nasceram nos demais anos de Rato (2008, 1996, 1984, 1972, 1960, 1948, 1936) |
Poderão sentir impactos diretos no cotidiano, como desatenção, desorganização, aumento das preocupações, desgastes e crises. É importante refletir sobre quais inquietações mentais são realmente relevantes e quais são receios irreais, que só dispersam a atenção, pioram a ansiedade e dificultam a pessoa de estar no momento presente. |
|
Desafios Emocionais |
Aos que nasceram nos anos de Cavalo (2014, 2002, 1990, 1978, 1966, 1954, 1942) |
Poderão sentir impactos emocionais indiretos, como nostalgia, reclusão, desistência e melancolia. Relevante manter o foco nos projetos e metas importantes, procurando estar e exercitar momentos que elevem a potência de vida (Alegria Ativa). |
|
Resumo do Ano |
Como toda a polaridade Yin e Yang, a qualidade do ano depende muito das posturas individuais e construção sólida de uma sabedoria coletiva. Se por um lado o período inspira a reorganização, uma diretriz efetiva de transformação nos campos financeiro e cultural, sendo o foco a reflexão pessoal e a necessidade de aperfeiçoamento, por outro lado pode haver uma cegueira de valores morais baseada na rigidez e no temor do diferente, na perseguição de uma perspectiva mais ampla, criativa e imanente. Um retorno a uma ideia de passado estático, com separações, muros, sermões e catequeses (concretos e virtuais), validados a qualquer custo por discursos psedo liberais ou por uma expectativa de melhora econômica. |
Jiu Gong Ming Li – As 9 Constelações
A segunda maneira de se analisar um ano é pelo sistema do Luo Shu (Quadrado Mágico). Sob esta perspectiva numerológica, 2020 será regido pela Estrela / Número 7 (Trigramas Lago – Céu Posterior e Água – Céu Anterior), o que inspira o diálogo, a comunicação, uma aceleração das tecnologias, a inspiração sensível e expressão estético-poética. Por outro aspecto, também gera um aumento do ruído verbal, das opiniões e posicionamentos rasteiros, das generalizações, desconexões-alienações e dos sofismos ressentidos. Naturalmente, depende do fator humano, das posturas e lucidez (ou a falta desta) no cotidiano dos seres (o que, cabe a reflexão, não está lá muito alentada para além da polarização e radicalismos). A ver, portanto...
De acordo com a data de nascimento, faz-se um cálculo para descobrir o Ming Gua do Ano de Nascimento (de 1 a 9), e cada um desses números representa uma característica pessoal e, no nosso escopo, um Desafio Anual que, dependendo de como é encarada, pode trazer harmonia ou instabilidade.
Cálculo Geral
- Como o calendário solar na China se inicia entre 3 e 4 de fevereiro, se o indivíduo nasceu (pelo calendário gregoriano) até 2 de fevereiro, considera-se o ano anterior (ex: 01/02/1976 – acerto anual: nascimento em 1975). Após essa averiguação:
- Somar todos os dígitos do ano do nascimento, até sobrar um dígito.
(ex: 1975 = 1+9+7+5 = 22 = 2+2 = 4)
2a. Para homens: a partir do número fixo 11, subtrair o dígito do ano.
(ex: 11-4 = 7). O Ming Gua Anual é o número resultante desse cálculo.
2b. Para mulheres: a partir do número fixo 4, somar o dígito do ano.
(ex: 4+4= 8). O Ming Gua Anual é o número resultante desse cálculo.
As Fases para 2020 e os Desafios
Crescimento |
Fama |
Desenvolvimento |
(Fase 4) |
(Fase 9) |
(Fase 2) |
6 |
2 |
4 |
Nascimento |
Flutuação |
Festa |
(Fase 3) |
(Fase 5) |
(Fase 7) |
5 |
7 |
9 |
Parada |
Embrião |
Colheita |
(Fase 8) |
(Fase 1) |
(Fase 6) |
1 |
3 |
8 |
Ming Gua |
Fase |
Desafios Pessoais |
1 |
8ª |
Revisão da caminhada, imersão no que realmente se faz sentido para a Alma. O que se necessita compreender? O que quero de mim mesmo? |
2 |
9ª |
Resumo dos 8 anos anteriores a partir de um olhar externo. Celebração e acolhimento externo, ou acusações e desgastes pessoais. O que o outro pode mostrar do que fiz para mim mesmo? |
3 |
1ª |
Silenciamento, deslocamento de paradigma, aprofundamento de si, amplitude referencial |
4 |
2ª |
Transformação de sonhos em metas, definição do que se almeja a custo, médio e longo prazo. |
5 |
3ª |
Aceleração e intensidade. Aproveitamento do tempo para realizar, fazer, transformar. |
6 |
4ª |
Priorização das reais necessidades. Definição de caminhos e foco no que é relevante. |
7 |
5ª |
Reavaliação crítica sobre os receios, ansiedades, zonas de conforto e equilíbrio pessoal. |
8 |
6ª |
Responsabilidade sobre as escolhas feitas. Aprendizado sobre autonomia e gestão pessoal. |
9 |
7ª |
Estímulo da leveza, reconhecimento do ritmo pessoal, agradecimento e sentido de comunhão com a natureza. |
Um instante de renovação para todos
O ano do Rato, por fim, não deixa de ser um reinício, um ciclo Di Zhi que recomeça depois de 12 anos. No meu caso, tal princípio não poderia ser diferente. É necessário recorrer à minha natureza, compreender as escolhas realizadas, traçar novos caminhos e modificar hábitos que, mesmo coerentes internamente, perpassam uma gama de forças, contextos e condições novas que, dinamicamente, nos impelem a mudar, a questionar e ainda mais, valorizar a caminhada até então. E que jornada de quatro anos foi essa no Jornal – O Legado / Excelsior, que desde o início de 2016 me acolheu como colaborador ativo e coparticipante dos processos sutis e concretos, profundos e cotidianos em que o periódico, habilmente, consegue mesclar.
Desta feita, com um pé na história construída junto ao jornal e o outro passo em direção a novas aventuras, de forma calorosa me despeço dos demais colaboradores do Excelsior, do editor Alberto Sugamele, que ouso dizer, estabeleci uma “amizade indireta” na sutileza profunda entre os envios dos textos mensais e, principalmente, ao paciente leitor que, de maneira concordante ou discordante, explícita ou implícita, mas sempre com viés crítico e possivelmente reflexivo, inspirou um diálogo silencioso para comigo, e que, com irresoluta certeza, me modificou como pessoa.
Que o(a) próximo(a) colaborador(a) no tema, com uma linguagem própria, possa atender às necessidades e expectativas, mas também inspirá-los, tanto quanto vocês me instigaram à escrita nesses anos. Mais que uma despedida formal, que essas últimas palavras possam soar como um grato “Até breve!”
Um Grande Abraço e muito Sheng Qi Ativo a Todos,
Marcos S. Murakami
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