Nenhum artigo ou coluna de 10 mil palavras consegue condensar tudo que hoje se sabe sobre as Sociedades Secretas. E não é por falta de capacidade de síntese, mas sim pela vastidão e ramificação do tema, além de um outro curioso fato, o entrelaçamento da maioria das Sociedades que hoje chamamos de Secretas e Tradicionais.

Por exemplo, os Rosacruzes. Para nós contemporâneos, é uma Sociedade criada nos EUA em 1858 e que se espalhou pelo mundo para promover o cultivo de uma nova cultura quase-religiosa (eu diria que hoje pretende se tornar uma religião gnóstica ou verdadeira). Entretanto, esta Sociedade que hoje pouco tem de realmente secreto, tem duas histórias de origem bastante secretas, talvez até da maioria de seus próprios adeptos.

Uma história remete suas origens ao tempo de Akhenaton, quando teria se originado como elite sacerdotal para preservação e consolidação dos princípios monoteístas daquele Faraó, ao qual se atribui o início das religiões de um único deus de poder sobrenatural sobre todos os demais.

A outra história delineia suas origens como fruto da proselitização de um místico do século 13 ou 14, Christian Rosenkreuz, que teria fundado um Colégio Invisível de sábios místicos afim de preparar a religião Cristã para uma nova fase na medida que o mundo e o homem evoluíssem no futuro e que forçosamente obrigaria a mudanças religiosas.

Paracelso descrevia estes sábios místicos como pessoas exaltadas e imortais. A Ordem Rosacruz tornou-se bastante ativa ainda na Renascença, influindo sobre muitos dos gênios da época, permeando assim muitos campos literários, culturais, éticos, políticos, religiosos e acadêmicos. Atribui-se a influência deles através de citações pinçadas do livro Paraíso, até na Divina Comédia de Dante.

Curiosamente, os dois principais “princípios” ensinados desde o início aos seus neófitos e preservado por todos os graus é “Quem sabe não diz que sabe”; e o segundo, de que cada um aprende sozinho tudo que precisa aprender para crescer na fraternidade. Parece um paradoxo e não tão verdadeiro. Merece ser examinado mais de perto mais adiante.

Como veremos acontecer com todas essas Sociedades taxadas de secretas e antigas, também o Rosicrucianismo acabou gerando filhotes e ligações mais profundas com outras sociedades candidatas igualmente ao secretismo. Seus laços com a maçonaria são extensos. Também a Teosofia criada por Helena Blavatsky iria adotar muitos dos seus preceitos e os incorporando em sua filosofia muito mais ampla e complexa, e também mística. Mas a corrente mais notável derivada dessa Sociedade é a Ordem Hermética do Amanhecer Dourado (Golden Dawn).

No século 18, um místico cristão alemão, Karl von Eckartshasen, descrevia seus adeptos como “Esses sábios que são poucos, são filhos da luz e opostos à escuridão”. Curiosamente ele dizia que eles eram contra o secretismo e a mistificação, e que não praticavam rituais de qualquer espécie. Dizia ele que possuíam um templo espiritual interior, presidido por deus”.

Fundamentalmente, promovem um alicerce cristão como perspectiva, porém em seus graus estudam conhecimentos arcaicos, principalmente os egípcios, os da franco-maçonaria tradicional, os cabalísticos, e finalmente desta corrente mais aberta e popular que citamos, criada, novamente, por uma americana.

Um dos grandes expoentes da Astrologia Médica do início do século 20, Max Heindel, era um iniciado Rosacruz e dizia misteriosamente de que haviam realizado um trabalho profundo para estimular a evolução da humanidade tendo pesquisado intensamente os conhecimentos da mais remota antiguidade “sob uma forma ou outra”.

Entre Paracelso e Heindel, se lançariam os fundamentos da medicina alopática moderna apesar de suas origens cabalísticas, místicas e astrológicas, fato que infelizmente é rejeitado pelos doutos desta profissão e desconhecido da maioria das gerações modernas de praticantes. Na realidade, os médicos de hoje, desconhecem ou rejeitam até o ainda famoso “Juramento de Hipócrates” que já regia o exercício da profissão de cuidar da saúde do semelhante.

Também Rudolph Steiner, proponente da Antroposofia, exalta o suposto fundador dessa Sociedade.

Dostoievski escreveu impressionante conto sobre esta figura de Christian Rosenkranz. Franz Biber compôs impressionante Sonata para Violino. Enfim, a fama desta Sociedade permeia quase tudo.

Entretanto, como todas as outras sociedades de origem no passado, ainda que duvidoso, também os Rosacruzes precisaram expandir seus quadros de adeptos para poder acompanhar a expansão demográfica e a extensão de territórios com a invasão pelo ocidente europeu das américas. Seu secretismo tornou-se mais “aberto” e accessível.

Praticamente todas essas sociedades alegavam ser fundamentadas sobre os princípios da cristandade, mesmo aquelas que traçavam suas origens para bem além do surgimento desta, seja no antigo Egito, seja na Suméria e Babilônia, e quando não eram “aceitas” ou aprovadas pela grande Sé do Cristianismo sediada no Vaticano, colocavam-se junto a esta em paralelo.

O que podia impedir a aprovação do Vaticano seria a ênfase sobre estudos da Cabala, de filosofias antigas orientais; a aceitação de teorias consideradas hereges como da existência de Atlântida ou de Mú, de Shambala e de Agarta. Tais estudos ficavam adstritos aos círculos mais fechados dos graus mais elevados e mantidos “secretos” do grande público para não haver confronto com os dogmas das autoridades eclesiásticas do tempo, e atualmente, com as autoridades que administram os dogmas acadêmicos.

Quando ainda não havia a tecnologia contemporânea, e até a imprensa ou edição de livros era rara e dominada pelo Vaticano, essas sociedades para desenvolverem suas correntes de ideias e conhecimentos, bem como para a promoção de seus objetivos, fosse para a preservação ou proselitização; ou fosse para assumir um papel mais dinâmico na condução dos negócios e artes da sociedade humana laica, a salvo do selo canônico, se fundiam com outras que surgiam ou eram por ela criadas, para atingir objetivos específicos.

Os Templários, por exemplo, ou exércitos cristãos da igreja que empreenderiam cruzadas santas para assegurar o domínio do cristianismo no oriente médio, especialmente na cidade de Jerusalém, não seriam secretos. Mas eram administrados por uma sociedade secreta interna a que conheceremos como Priorado do Sião, sobre a qual falaremos extensamente.

Mas entre as hostes dos Templários, a maioria dos comandos eram entregues a elementos escolhidos a dedo entre a elite que se manifestara em outros colegiados como mais evoluída de alguma forma e que obedecia não ao comando publicamente divulgado mas aos ditames do Priorado do Sião...

Assim, não é surpresa descobrirmos que esse “inner sanctum” de poder, nascido em consequência de derrotas fragorosas aos muçulmanos no oriente médio, na própria Jerusalém, acabaria por migrar para Roma de onde passaria a decidir os destinos das Cruzadas. Talvez somente uma outra sociedade tenha sido realmente tão ou mais secreta que o Priorado de Sião, e é o que veríamos a conhecer graças a autores modernos como Dan Brown, a “Opus Dei”.

Enquanto isso, o Priorado do Sião supostamente protegia um tesouro religioso guardado em subterrâneos da cidade, pasmem, a Arca da Aliança ou então o Santo Graal.

Como vemos, as diversas sociedades se confundiam, se entrelaçavam, cada uma cumprindo essencialmente um papel específico e frequentemente independente da outra, mas de alguma maneira obedecendo a uma linha única de objetivos e alternando o poder hierárquico.

Que linha era essa e quem a ditava?

Saberemos na medida em que continuarmos a ler esta série, e podemos adiantar que é algo como uma sociedade secreta “moderna”, a sociedade da “Elite Corporativa” que hoje comanda os governos legítimos ou mais ou menos das nações contemporâneas levando-as a conflitos intermináveis, ao crescimento do abismo entre a riqueza e a pobreza, e a um processo que o autor considera mais um movimento de autodestruição do que de evolução.

Pelo menos nisso, as Sociedades Secretas “tradicionais” eram mais benéficas para a nossa espécie – elas visavam o progresso, a evolução da sociedade e a promoção do mote da Revolução Francesa “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, por sinal movimento que mudou a imagem do mundo moderno e que teria origem nos ideais propalados por duas ou três das sociedades secretas mais tradicionais que conheceremos nos artigos que se seguirão, notadamente a franco-maçonaria.

Se houve quem reclamou que o artigo anterior era curto, este é um pouco mais curto ainda, mas longe de fechar questões ou definir conclusões; visa somente a traçar as linhas gerais da matéria que se expõe. Não nos cabe emitir julgamentos tanto quanto possível. E como dizem os Rosacruzes, “Quem Sabe, Não Diz que Sabe”.

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