Reencontros com o passado na Terceira Idade
Texto colaboração de Boris Artemenko - professor de Astrologia - Maio 2016
Quando envelhecemos, é normal termos reencontros com o passado – o passado que tivemos, o passado que sonhamos, o passado que criamos e com os fantasmas que deixamos. Na realidade, nosso presente, hoje, é o fruto do nosso passado.
Envelheci e como a maioria, não estava preparado para reconhecer isso. Mas quando o passado começou a me assombrar no presente, às vezes a troco de nada, é hora de parar para pensar.
Reencontrei-me com o que cheguei perto de ser; me reencontrei com o que sonhara me tornar; e olhava pasmo para o que hoje sou. Imagens duras de olhar de frente.
Tentei fazer um inventário moral. Qualidades eu tivera; estudo não me faltou; conselhos tampouco. No entanto estava ali diante de um fracassado, um farrapo indigno do que um dia sonhara me tornar.
Olhei então os defeitos. Curiosamente, foi mais fácil encará-los. A questão se tornou, o que seria de mim dali em diante? Se ainda seria, ou se como pedia ao Universo, deixaria logo de ser qualquer coisa....
Já havia enfrentado reencontros com dívidas, credores, mas o pior era me defrontar comigo mesmo e as coisas que plantara na minha trajetória. Tentava ver o lado bom de tudo – o aprendizado; mas me perguntava – e o que foi que aprendi? Porque continuava com um saldo maior de débito ao invés de ter um mínimo de crédito?
Bem. Também não posso dizer que não tinha crédito. Ainda tinha abrigo; tinha quem ajudava a sobreviver e a tentar levar algo que parecesse uma vida mais digna do que de parasita ou de mendigo. Comecei a tentar ver onde me desviara do caminho com que sonhara...
O reencontro com dívidas e credores até que não foi difícil, pelo menos até aonde já enfrentei. Até uma dívida fiscal que levou 30 anos para me ser cobrada.
Mas o confronto comigo mesmo é que vem sendo casa vez mais difícil.
O que é esse reencontro?
Primeiro, descobri que não há como esquivar-se. Ele se dá quer eu queira ou não. Posso, como é normal, postergar, mas não posso fugir à necessidade de encará-lo, mais cedo ou tarde. Ou então dizer que afinal de contas, todos erramos e que atire a primeira pedra quem nunca errou. Só que isso não resolve, só faz parte do problema e não da solução.
Eu posso apelar para o chavão de que o que (parece) não tem solução, solucionado está. Mas o maior debate está na minha consciência. E tudo que aqui se faz, volta.... Poucos são os que não cometem os mesmos erros, mas de não errar...
E quando cometemos aquilo que verificarmos adiante como erros, a coisa se complica. Porque no afã de adiantar algum projeto nosso, não paramos para pensar.
Na chamada terceira etapa, e eu chamo de última etapa da jornada corrente, é que todas essas coisas começam a nos assolar.
Como acredito que todas as nossas doenças têm origem no nosso emocional e/ou espiritual, também aqui está o fator preponderante para isso acontecer. Acabamos por adoecer e se não buscarmos uma solução, o problema se agrava. Até que se somatiza no corpo. E quanto mais velhos ficamos, mais vulneráveis ficamos porque uma das características é nosso desprezo ou indiferença diante da experiência humana, seja dos outros, seja a nossa própria.
Se um dia fiquei devendo ao fisco, e a cobrança ocorreu trinta anos depois, não posso reclamar ignorância ou qualquer outra desculpa para não solucionar o problema quando finalmente se torna uma cobrança daquelas de “ou paga ou fracassa novamente”. Isso porque um erro não resolvido quando com ele nos reencontramos, impede que possamos livremente e descansadamente, termos novas iniciativas. Se tivermos um pouco de vergonha na cara.
E isso é um processo natural. Podemos até nos queixar de que estamos sendo perseguidos; que o destino é cruel; mas se formos honestos ao menos conosco mesmos, sabemos que não é isso.
Os confrontos com a consciência também são uma forma que a vida nos conduz. Se não atentarmos para o que está nos sendo dito por ela, não temos como dar novos passos até que “limpemos a lousa”.
Há pessoas que não dormem, não comem, enquanto não resolvem seus problemas pendentes. Chamamos essas pessoas de “honestas”. Porque cada problema que criamos não afeta somente a nós. O outro também é prejudicado de alguma forma. Pensando bem, todos afetam alguém porque nem um homem é uma ilha.
Problemas canônicos como dívidas, são teoricamente mais fáceis de resolver – pagando. E quando não podemos pagar? Como fica o credor? E qual a atitude dele para conosco? A perda de confiança é a menor consequência, para nós. E para o credor?
Na verdade, todos os problemas são iguais. Os de origem material parecem ser menores. Primeiro porque poderiam talvez ter sido evitados não se criando a dívida. Ou saldando seja a curto ou longo prazo, também parecem se resolver. Fica pendente a questão da confiança.
Mas há problemas muito mais graves.
A maioria dos relacionamentos humanos se tornam instáveis, ou entram em colapso ou geram até violências por não sabermos identificar geralmente o mal causado senão pelas consequências, ficando difícil encontrar uma solução em tempo.
E enquanto o problema existir, com certeza, o enfrentaremos em algum ponto daquilo que chamamos de “nosso futuro”, ou da nossa jornada. Nossos sonhos se abalam, nossa reputação sofre, e mais que isso sofremos o problema na consequência. Sem falar no efeito e consequências que tem sobre o outro e possivelmente outras pessoas envolvidas. E quando não resolvemos nesta encarnação, vamos ter que resolver na próxima. Para os orientais isso se chama dharma, e transposto para a encarnação seguinte, karma.
É muito fácil entender porque isso. Para a Consciência Cósmica, qualquer desvio nosso de conduta é uma dívida. Não é que vamos pagar o que tivermos feito em uma encarnação anterior a alguém, mas teremos que melhorar o nosso caráter revivendo situações iguais e muitas vezes, estará retornando a nós onde sofreremos o mesmo tipo de ação que causamos ao outro. Não é à toa que se chama karma de retorno.
Podemos inclusive voltar com os mesmos defeitos de caráter e fazer as mesmas coisas de novo, mas com a chance de não repetirmos nossos erros; mas também podemos nós mesmos sofrer o mesmo tipo de ação para resolver a pendência de um jeito ou outro.
Para nós ocidentais é muito difícil compreendermos esse mecanismo porque nos focamos no tempo e dimensão estritos do aqui e agora, e nossas culturas evoluíram em cima de uma plataforma materialista. O tema de que estamos falando hoje é muito mais espiritual do que material, mesmo quando trata de aspectos materiais.
E com isso se confunde nosso entendimento de se temos ou não livre arbítrio, direito de escolha. Achamos que karma nos impede de termos livre arbítrio e que nos obriga a resgatar as dívidas de encarnação passada. Mas não é isso. Não se trata de dívidas em termos materiais, mas sim de caráter espiritual, e não envolvem necessariamente os mesmos protagonistas nem os mesmos valores.
Um celeiro de consequências está no nível de relacionamentos, sentimentos, emoções e coexistência. Na próxima edição, nós vamos aprofundar o tema nesse nível.
Quantos de nós, no cotidiano, “pulamos a cerca” dos relacionamentos? Quantos e porque há filhos sem pais e pais sem filhos? E quando estes se encontram, porque faz parte do processo natural, o que acontece? O reencontro é inevitável. Ocorre mais cedo ou mais tarde. Pior quando mais tarde.
Quantos de nós o fazemos por achar natural e alegamos que para um fazê-lo, é preciso que haja o outro. Sim. Mas quais as consequências para um, para o outro, e para o eventual fruto de tal ato? Esta será a continuação da nossa vivência do tema.
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NOTA DA REDAÇÃO: Este foi o último texto escrito pelo Professor Boris Artemenko para o Jornal O Legado - Ele faleceu às 6 hs da manhã do dia 05 de julho de 2016, após vários dias hospitalizado. O Céu ganhou mais uma Estrela... E muito brilhante!
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