“Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também!”
 
Torna-se muito interessante, escutar certas enquetes televisivas a respeito de comportamento da juventude. Todas as entrevistas escondem como pano de fundo, a enorme ansiedade que o jovem tem de encontrar uma parceria afetiva. Como cenário principal são colocados os modismos, as gírias e os padrões tão comuns entre os jovens da maioria das cidades brasileiras, e mesmo com tanta liberdade, o jovem acaba não sendo feliz!
De uma década para cá, ficou estabelecido o FICAR entre os jovens. O que era um comportamento cultural masculino, nesta época de profunda globalização passou a ser adotada pelo feminino como sua bandeira de liberdade. As meninas ficam. A maioria das meninas fica. Quem não fica é careta, ultrapassada, desatualizada, está por fora...! Os meninos, mais pela falta de educação e condicionamento cultural, já tinham que ficar; precisavam provar que eram machos, através de várias conquistas que confirmariam suas virilidades, e o ficar, de maneira geral era um comportamento tradicional do masculino.
Certa vez, no meu consultório, eu tive contato com uma jovem que em uma determinada festa, bateu o recorde da turma e isto lhe era motivo de orgulho; ficou com 14 meninos, beijou na boca, apalpou e foi apalpada por cada um deles e tudo isso na mesma noite. Talvez, por 14 vezes, ela sentiu algum tesão, ou fez alguém sentir tesão por ela. Depois do relato passei a pensar que os 14 meninos, deveriam estar relacionados aos seus anos de vida, pois ela tinha na época 14 anos (?).
É a liberdade, é o mundo da globalização. É o mundo do EU SOZINHO!
Quem pratica o ficar com intensidade, por mais parceiros que tenham no ficar, sempre estará só. O ficar não estabelece relação. Relação é a única coisa que nos dá segurança, constrói e ajuda no crescimento e desenvolvimento de nossas competências humanas.
Algum tempo atrás, fazendo uma palestra em um grupo de jovens, fiz uma dinâmica, onde o tema era NAMORAR, FICAR OU ROLAR?. Foi por demais interessante o que aprendi com os jovens. Havia inicialmente, grande maioria, os defensores do ficar. Aleatoriamente dividi o grupo em 3 sub-grupos, e onde um mini grupo tinha que defender o FICAR, outro o NAMORAR e o outro o ROLAR (este, é um ficar mais refinado; fica-se, vai se ficando, ficando... mas só ficando).
Os jovens incorporaram o debate com veemência e passaram a defender suas idéias grupais. Após cerca de 40 minutos de debate, foi aberto para que eles falassem os sentimentos que rolaram durante a dinâmica. No princípio, as meninas em sua maioria defendiam o namorar e os meninos em sua maioria o ficar. No final a grande totalidade acabou se abrindo, dizendo que de fato gostariam de namorar, mas estava muito difícil.
Começamos então a exposição dos motivos das dificuldades de se ter um namoro. Foi por demais interessante a conclusão.
Os jovens daquele grupo, não namoravam por insegurança e medo.
As meninas falavam que não namoravam, pois os meninos de maneira geral eram “uns galinhas”, “namoram a gente mais saem com outras” e elas não confiavam neles por não quererem ser chifradas. E os meninos falavam que não namoravam por não confiarem nas meninas, acreditando que “não namorar para não ser chifrados, pois hoje as meninas põem chifres a toda hora”.
Esta amostra de um grupo de jovens que se reúne semanalmente e muitos são amigos de todo o dia, e a amostra que tenho diariamente entre meus pacientes jovens, que tem sentimentos e desejos muito semelhantes aos já citados, me levaram a pensar numa coisa importante: O jovem não tem vivido sua paixão como eu e nossa geração viveu em nosso tempo de jovem. Eles são muito mais livres, muito mais informados, mas estão presos num padrão doloroso da mudança de comportamento do feminino. A mulher diz e faz o que quer e isso assustou o homem que não acompanhou este processo de mudança.
A mulher jovem que não tinha o modelo da liberdade, incorporou o modelo masculino que inibe muito o homem jovem que não sabe em muitas ocasiões lidar com esta nova postura feminina. A mulher jovem que tenta expressar toda a competência da nova liberdade, do prazer de escolher e decidir o que fazer com sua vida, corpo e sexualidade, não tem sabido como se utilizar desta liberdade. De maneira geral a menina caiu na mesma fórmula medíocre que o menino já mantinha de há muito tempo e não sobra espaço para se praticar o encontro, a troca, o olho no olho, o afeto, o compromisso de estar com alguém, o sabor do gostoso beijo roubado ou ter alguém para se voltar ou procurar.
Creio que os jovens não têm aprendido a amar, pois não praticam o desenvolvimento para o ato de amar, que é o namoro. Ficar pode até ser uma evolução e uma nova maneira de se praticar nossa liberdade e expressão de nossa sexualidade, mas até agora o que tenho aprendido com quem pratica esse ficar, é que ele não tem trazido a esperada felicidade, pois a felicidade depende da continuação de um processo, da segurança que uma relação promove, até atingir o tão esperado amor.
Amor... será que o jovem de hoje sabe o que isso significa? Será que o excesso de liberdade que nossa geração deu ao jovem é de fato um ato de amor, ou o jovem está preso nas teias do desamor? O ficar, será um processo do amor ou do desamor? Creio que seja necessária nossa reflexão, para aprendermos a conviver com este caminho e até criar um atalho novo para que ele complete o que todos nós buscamos: SER FELIZ!

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