Em 2020, 70% dos recursos públicos mundiais serão gastos com tratamento de doenças

Quarenta e cinco por cento dos recursos públicos mundiais são destinados ao tratamento de doenças não transmissíveis, auto-imunes ou psicossomáticas. Caso não sejam adotadas práticas e ações preventivas, esse número poderá chegar a 70% em 2020. E um dos grandes problemas de saúde da atualidade é a depressão. Com esse dado alarmante, o artista plástico Rafael Murió abriu o I Seminário Nacional de Medicina Integrativa, na última semana, no auditório do SindSaúde, em São Paulo.

O evento, realizado pelo Grupo Internacional Yóga Clássico e pela DA Multicomunicação com o apoio oficial da Unesco, reuniu especialistas brasileiros e de renome internacional para discutirem o Futuro da Saúde Mundial. Durante um dia inteiro, médicos, psicólogos, terapeutas, homeopatas, acupunturistas, nutricionistas, massoterapeutas, pedagogos, pesquisadores, artistas e políticos falaram de suas experiências e da necessidade de unir forças na consolidação de práticas eficazes em diferentes áreas da saúde para a cura e prevenção de doenças.

O deputado estadual, Carlos Neder, médico e mestre em Saúde Pública pela Unicamp, explicou que em virtude dos avanços na área da saúde, está havendo uma mudança demográfica: há uma redução no número de filhos, a população brasileira está envelhecendo e aumentou a expectativa de vida do brasileiro. E, como conseqüência, as doenças crônicas degenerativas devem crescer e gerar encargos mais elevados para a sociedade. “A saúde vai muito além da prática médica, e sua promoção é de responsabilidade de toda população. Se quisermos mudar esse quadro, teremos que conhecer a sociedade brasileira mais a fundo. É necessário rever urgentemente as questões de saúde pública e a adoção de ações integrativas nas diferentes áreas da saúde”, disse.

O pediatra e homeopata Nicolas Schor falou da homeopatia como processo de individualização e atenção para o equilíbrio físico, mental e espiritual ao buscar entender o paciente e buscar remédios que interfiram nesse processo com uma visão mais complementar.  Apresentou dados sobre a evolução da homeopatia em diversos países e expôs que no Brasil, atualmente existem mais de 15 mil médicos homeopatas. Ressaltou que pesquisas demonstraram a satisfação de 70% a 80% dos pacientes com essa prática e que, entre as especialidades, a homeopatia representa 16% com mais médicos. Além de ser ensinada em cursos de Graduação e Pós, vem sendo utilizada em vários municípios brasileiros pela rede pública de saúde.

Milton Alves, presidente do Sindicato Nacional dos Terapeutas Naturalistas e do Conselho Brasileiro de Auto Regulamentação da Massoterapia, comentou que embora haja inúmeras leis e portarias, e projetos sendo apreciados, poucas são as conquistas e muitas são as dificuldades. Alertou que os cursos técnicos de massoterapia, estética e podológia são os únicos credenciados pelo Ministério da Educação e Cultura, e que os tecnólogos e superiores na área de terapias naturais ainda não foram autorizados. Citou que uma das grandes conquistas na área, o Centro de Referência em Tratamento Natural do Amapá, com atendimentos e serviços ambulatoriais em massoterapia, geoterapia, fitoterapia, trofoterapia, yógaterpia, homeopatia, acupuntura, auriculoterapia. Desde 2004 foram realizados mais de 170 mil procedimentos com terapias naturais.

As doenças e os sentimentos

O infectologista e imunologista colombiano Roberto Giraldo destacou como a capacidade destrutiva do ser humano é enorme e a importância da medicina da alma. São vários os agentes estressantes tóxicos que interferem na saúde do homem: químicos, físicos, biológicos, nutricionais e mentais. Como a medicina moderna está cunhada no corpo humano, nem sempre consegue explicar por que, mesmo sofrendo as mesmas influências, algumas pessoas adoecem, outras, não.  O médico vai buscar em Aristóteles a resposta: “Nada há no intelecto que não tenha passado pelos sentidos” e explica que 4% dos problemas estão no corpo e os outros 96% estão associados a sentimentos, pensamentos e atitudes.

“Para a medicina integrativa, os problemas e o desenvolvimento de toda doença depende de condições internas”, explica. Ele cita o pai de medicina Hipocrates (460 a.C) que falava que o poder de cura do paciente é essencial e que deveria ser estimulado. Giraldo defende o estímulo do médico interior, de levar a tranqüilidade e alegria aos pacientes, na diminuição dos alimentos ácidos e aumento do consumo dos alcalinos, na divulgação de verdades científicas e na utilização de terapias naturais.

A psicologia integral no controle do stress e ansiedade foi o tema de Clarice Barbosa. E para explicar porque algumas pessoas saem fortalecidas de situações traumáticas e outras, não, a psicóloga apresentou a teoria de Martin Seligman sobre resiliência, como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc. - sem entrar em surto psicológico. Ela defende que com as exigências da modernidade e com a ênfase excessiva em eventos negativos, há a necessidade de uma estruturação psíquica e do reconhecimento do potencial de cada um através de ações que ampliam as forças, como: expectativa positiva do futuro, tolerância às frustrações, projetos de vida e autoconfiança.

A vida moderna

Vera Caballero, terapeuta holística, acredita que a sociedade moderna é movida pelo medo, tem-se medo de tudo e a busca da saúde é pelo medo da doença e não pelo amor e celebração à vida. Segundo ela deveria haver uma revisão, reeducação sobre a maneira como se vê a vida, tornando-a mais prazeirosa, tratando o corpo como um aliado. Vendo a doença não como um castigo, mas um aliado, um sinal de que se saiu da rota e é necessário se reequilibrar.

A biomédica Vera Ligia de Andrade Lemos fez a última palestra do Seminário explicando como a acupuntura pode ser um método preventivo à saúde. A acupunturista afirmou que na natureza tudo depende do equilíbrio, inclusive a saúde de homem. A sociedade contemporânea fez com que o homem tentasse calar o seu corpo, ou seja, se ao sentir uma dor, o que se quer é algo que “cure” já aquela sensação ruim, sem se aperceber o que isso pode significar. Ela apresentou dois casos em que pela acupuntura foi possível detectar doenças sérias, antes mesmo que elas se manifestassem, o que possibilitou o tratamento e a prevenção.

O moderador do evento, pesquisador e membro da Unesco, Claudio Duarte, encerrou os trabalhos, alertando para o fato de que houve um aumento significativo da qualidade de vida, mas isso ocorreu de forma desordenada. Na medida em que as pessoas buscam as terapias para resolver problemas, a medicina integrativa tem que fazer um trabalho de conscientização. Ele destacou que cada um tem que ter consciência do que é saúde, assumir uma atitude interior e depois exterior, disseminando a informação. O pesquisador acredita que com a realização do Seminário se plantou uma semente que tende a crescer e garantiu que o próximo evento do gênero deverá ocorrer em 2011.

Sobre a Medicina Integrativa

A Medicina Integrativa é a prática terapêutica que une a medicina tradicional com a medicina de outras culturas e outros países, além de outros tipos de ciências e técnicas saudáveis em diferentes áreas e campos profissionais para atuarem e interagirem juntas, em sinergia. Aborda de forma integral e completa o processo de cura e prevenção do paciente, envolvendo sua mente, corpo e espírito.

 

Embora a Medicina Integrativa seja recente, surgiu em meados dos anos 90, ela conta com o reconhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS).  No Brasil, o Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) foi criado apenas em 2006, para atender uma demanda já existente. Em 2009, o governo investiu R$ 2,9 milhões no custeio de consultas integrativas – 326,3 mil em homeopatia e 221,8 procedimentos de acupuntura. Números do Ministério da Saúde, referentes a 2008, mostram que 285 cidades ofereciam algum tipo de assistência em homeopatia. Outros 350 ofereciam fitoterapia, 203 possuíam acupuntura e 184 já dispunham de ações relativas à medicina chinesa.

 

Atualmente centros de estudos, institutos e universidades européias, americanas, canadenses, indianas, chinesas e africanas possuem cursos e centros de pesquisas sobre medicina integrativa. Muitas pesquisas são publicadas sobre o assunto em revistas acadêmicas internacionais ou não, como a Nature, centros de pesquisas, institutos, universidades, faculdades, escolas e hospitais têm um departamento de medicinas complementares que acolhe os pacientes.

 

Nos Estados Unidos são mais de 3800 cursos na área e fazem parte do Consortium of Academic Health Centers for Integrative Medicine:  Albert Einstein College of Medicine of Yeshiva University, Columbia University, Duke University, Georgetown University, George Washington University, Harvard Medical School, Johns Hopkins University, Mayo Clinic, McMaster University, Oregon Health and Science University, Stanford University, Thomas Jefferson University, Yale University, University of Arizona, University of California, Los Angeles, University of California, San Francisco,  University of Connecticut, University of Michigan, University of Washington entre outros.  

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