Ter sido convidado pelo O Legado para escrever uma coluna sobre este tema é uma honra e ao mesmo tempo um desafio.

Desafio porque sob essa capa escondem-se tantos e variados assuntos que seria necessário todo um colégio de doutos para alcançar um percentual mínimo de tudo que se enquadra neste título e eu não o sou. Além de ser apenas um, também sou um eterno aprendiz que dificilmente alcançará sequer esse mínimo. Mas vamos tentar, pois para mim também é uma fonte de mais aprendizado até na revisão e reavaliação dos meus próprios conhecimentos e conceitos a respeito.

Escrever é uma forma de partilhar com outros as nossas idéias e também revê-las ou inventariá-las quanto as suas realidades objetivas. Naturalmente, o retorno dos leitores é o que melhora a natureza tanto do que se escreveu como do que vai se escrever... Portanto, são estimulados os comentários, críticas, questionamentos bem como perguntas específicas. Creio que a redação do Jornal O Legado me encaminhará estas para que então possam ser respondidas quando for o caso.

A primeira coisa que me salta aos olhos é: porque tanto fascínio por ciências ocultas? Fascínio que não se limita aos que teoricamente se envolvem em algum dos seus múltiplos ramos, mas de todos, inclusive os ascéticos, agnósticos, ateus, e principalmente até dos próprios acadêmicos envolvidos com as ciências não ocultas e até exatas.

Esses últimos são perturbados na formulação de suas ideias, teorias e dogmas “científicos” pelas contestações daqueles que rebuscam o que está “oculto” por trás de cada afirmação ou conclusão que se transforma em “lei natural” de comportamento, aplicada naquela disciplina específica.

Afinal, a curiosidade humana não mudou muito e sempre foi atraída pelo desconhecido ou oculto. As antigas religiões acreditavam que forças ocultas sempre influenciaram a existência, quer individual, quer coletiva, e nós herdamos extensa mitologia e compêndio de superstições, além de inúmeras práticas misteriosas e técnicas de adivinhação e de previsão.

Dizem-nos, por exemplo, os que estudam o Cosmos que somos uma pequena parte de um sistema planetário que gira em torno do Sol; no qual somos o terceiro “planetinha” a partir desse, e que somos a única forma de vida consciente e sentiente conhecida em toda a vastidão do espaço. Se no passado a grande maioria acreditava nisso, hoje em dia a grande maioria duvida, mas também continua sem resposta.

Também nos dizem os mesmos proponentes de tais ideias, que surgimos poucos milhares de anos atrás, mesmo afirmando que nosso planeta (e por extensão sistema solar) exista a incontáveis centenas de milhares de anos. Mas essa linha de tempo continua inexoravelmente a crescer, e hoje novas descobertas e medições indicam que existimos como espécie há pelo menos mais de duas centenas de milhares de anos.

Mas como isso começou e aconteceu é motivo de conflitantes teorias religiosas, evolucionárias e creativistas. Nenhuma responde definitivamente a questão, e todas se vêem tolhidas na questão principal – e como aconteceu seja qual for o processo? Quem o decidiu e ativou? Quando e por quê?

Para os religiosos, foi uma divindade original que foi precedida por muitas e pelas forças da natureza. Para os evolucionistas Darwinianos, é um tal genes que se desenvolve por uma lei de maior força de sobrevivência – uma espécie de lei do mais forte ou capaz. Para os creativistas, volta-se para a divindade, mas com um abandono quase dramático dos dogmas religiosos.

Assim, “ocultos” atrás dessas afirmações dogmáticas que prevaleceram por quase dois milênios da “sabedoria humana” estão os mistérios de como tudo isso começou, aconteceu e quem determinou que assim fosse.

As ciências ocultas sempre estiveram por trás de tudo e o fascínio por elas começa daí.

Uns poucos na antiguidade detinham o privilégio de serem considerados sábios e, portanto, supostos sabedores de tudo isso e dos mistérios. Seus conhecimentos não só eram dogmáticos, como ditatoriais, mas confrontados com os questionamentos e dúvidas de noviços curiosos, se escondiam nos mistérios que alegavam conhecer, que afirmavam eram demasiado complexos para o homem comum compreender.

Para entendê-los era preciso estudar, acreditar, e submeter-se a iniciações, recursos na realidade de doutrinação e lavagem cerebral primitiva. Cercavam esses mistérios de mais mistérios e criavam cultos e rituais – as ciências ocultas. A raiz inclusive do radicalismo.

Estes processos aos poucos se transformaram em religiões ainda mais dogmáticas e mais misteriosas, privilegiando uns poucos como não só próceres, mas também ditadores da forma em que os homens comuns deveriam se comportar, crer e seguir suas vidas.

Porem, tais ciências ocultas jamais responderam as questões que preocupavam esse mesmo homem comum; o qual, por sinal, era mantido na mais completa obediência aos dogmas e ignorância das respostas que continuavam “ocultas” e cercadas de convenções, proibições (tabus), que lhes eram vedados.

Vamos dar um salto no tempo. Somente a partir do Renascimento, começou um processo de abertura. Nem as elites privilegiadas se contentavam mais em não ter respostas, nem o homem comum se contentava mais em não ter acesso aos mistérios.

O Renascimento foi prenhe do que se chamou de heresias. Grandes homens foram queimados por contestarem os dogmas estabelecidos.

Os alquimistas e os magos, as sibilas do período, eram perseguidos e submetidos ao processo da Inquisição que era o instrumento religioso daquele tempo para sufocar os mistérios. A verdade, porém é que foi a partir desse movimento renascentista, cujas origens também são pouco compreensíveis historicamente, que começaram as mudanças.

A sociedade mudava para absorver uma população crescente em todos os sentidos. Surgiam o comércio intermediário, o mercantilismo, o sistema bancário, e a educação acadêmica. A instituição de sistemas de educação começou a derrubar os tabus. E os mistérios começaram a ser questionados mais de perto pelo homem comum, pelo homem da classe educada emergente, e a elite e seus próceres, se viram obrigados a ver seu poder questionado de mais de uma forma e para isso, preservaram os mistérios cada vez mais ocultos.

As religiões se institucionalizaram a partir da Reforma. A alquimia se dividiu em ciência gerando a química, a física e a biologia. A astrologia há muito já tinha gerado outra vertente que agora se fortalecia e adotava um novo nome, astronomia. Aos poucos e por outros dois séculos e algo mais, a sociedade humana se transformou gradativamente.

O estranho nisso tudo é que hoje os mistérios continuam ocultos. Há mais sociedades secretas e rituais misteriosos, e mesmo sob nova roupagem, muitos dos rituais, técnicas e costumes retornam e provocam maior fascinação pelo que é oculto, misterioso e ainda sem resposta. Tanto quantitativa quanto qualitativamente, os mistérios aumentaram e tornaram-se mais intensos, profundos e perturbadores.

Nenhum dos conhecimentos hoje existentes está livre de questionamentos, superstições, e por mais respostas que surgem, o número de dúvidas e perguntas cresce geometricamente.

Hoje viajamos ao espaço, mas tememos a existência de extraterrestres, até de que tenham nos manipulado no passado; as distâncias diminuíram, mas conhecemos cada vez menos sobre os nossos vizinhos; comunicamos-nos instantaneamente com alguém do outro lado do planeta, mas continuamos sem entender porque somos capazes de fazer isso...

Na remota antiguidade da nossa Era Cristã, em algumas civilizações isoladas já existiam escolas e centros de aprendizagem. Na Grécia antiga, por exemplo, eram locais onde os candidatos se educavam pela discussão livre do conhecimento do tempo, com os que eram considerados mais esclarecidos. As mais famosas historicamente foram o Museu de Alexandria e a Academia de Platão.

Em geral, o aprendizado era mais por apadrinhamento de alguém destacado em determinada atividade que admitia aprendizes. E isso acontecia em todas as atividades como as de um padeiro, ferreiro ou sapateiro. E também nas artes da pintura, da escultura e da retórica. Isso era a continuidade de como uns poucos aprendiam e assumiam conhecimentos mais específicos em suas vidas, inclusive da alquimia, das técnicas curativas, das atividades mundanas e até as que exigiam mais talentos.

Mesmo antes do Renascimento, já existiam escolas precursoras das modernas universidades na Europa, no Oriente Médio e no Extremo-Oriente, mas todas sempre sob controle e administração religiosa onde quer que fossem ou qual fosse a crença prevalecente na região. Os Islâmicos mantinham escolas de estudo do Alcorão, como fazem até hoje. Os cristãos mantinham escolas de preparação de missionários e futuros sacerdotes administradas por bispos que funcionavam sob autorização papal.
Mas o divisor de águas ainda foi o Renascimento.

A concepção de universidade que temos hoje tem sua origem na Europa dois séculos após o Renascimento.

Até então, tais estabelecimentos tinham como disciplinas fixas as sete artes liberais: (Aritmética, Geometria, Astronomia, Lógica, Gramática, Música e Retórica), que permitiam a formação profissional nas áreas de Teologia, Direito e Medicina.

O nascimento das universidades modernas ocorreu a partir de 1520, com o movimento da Reforma se espalhando pelos países do norte europeu e o início do envolvimento das instituições não católicas nas universidades. Isso ocorreu simultaneamente também nos Estados Unidos.

A partir do século 18, também a idéia de unir o conhecimento científico ao desenvolvimento tecnológico emergente surge com a Escola Normal Superior e Escola Politécnica, ambas fundadas em 1794 na França, sob estrito controle governamental; e com a Universidade de Berlim (hoje conhecida como Universidade de Humboldt), em 1810, que pregavam a necessidade das universidades desenvolverem pesquisas e a primazia da liberdade acadêmica.

Isso deu ensejo à Revolução Industrial, primeiro passo do que chamamos hoje de tempos modernos. Mas não acabou com, e nem respondeu aos questionamentos das ciências ocultas. Continuarei no próximo mês.

 

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