Tenho ouvido com muita frequência a pergunta: “O que uma mãe deve fazer para se tornar perfeita?” Talvez essa seja a grande busca das mães. Qual delas nunca teve essa fantasia?

Nossa sociedade cobra perfeição o tempo todo. Temos de ser bons em tudo, como pessoas e profissionais. Dificuldades e problemas muitas vezes são fonte de angústias, ansiedade e até depressão.

E as mulheres sofrem cada vez mais cobranças. Estão no mercado de trabalho, que é extremamente competitivo, e precisam desempenhar suas funções como donas de casa da melhor maneira possível. Além disso, devem cumprir todas as obrigações que têm como esposas e mães. Para muitas, a escolha de ser mãe pode vir como fruto dessas cobranças e quando se dão conta, já estão com o filho nos braços, vivendo as agruras da maternidade.

Pouco se fala da renúncia, das dificuldades, das angústias resultantes da cobrança que pode ser externa ou até mesmo interna. E a culpa caminha ao lado de tudo isso.

Os bebês têm necessidades que precisam ser atendidas por um adulto para que possam sobreviver e se tornar física e psiquicamente saudáveis.  E esperamos que quem preste esses cuidados seja a mãe, a pessoa mais apta e preparada para esse papel. Contudo, nem sempre isso é possível, pois as mulheres de hoje são muito diferentes daquelas de gerações anteriores. Engravidam mais tarde e têm de aliar essas obrigações a inúmeras outras, principalmente à profissão.

Mas o que é ter êxito nas funções maternas? No aleitamento, por exemplo, função destinada exclusivamente às mães, significa estar presente, colaborar para que o bebê faça uso do seio da forma mais completa possível, pois este não é só uma fonte de alimento e nutrição.

Essa experiência inclui uma infinidade de benefícios que não contribuem apenas para o desenvolvimento físico da criança. Um aleitamento materno bem-sucedido representa também a garantia de sua saúde psíquica. Muitas vezes, cobranças externas em relação ao aleitamento impedem a mãe de realizá-lo da melhor maneira, pois ela pode cumprir essa função exclusivamente para corresponder à expectativa familiar, social e até mesmo à sua própria, sem perceber que talvez esteja realizando a tarefa de maneira pouco espontânea ou até mecânica, sem ter prazer com isso. Talvez amamentar o bebê com mamadeira signifique um alívio para ela e consequentemente para o filho, que absorve suas emoções como uma esponja. Ele não entende racionalmente o que estas significam, mas sem dúvida consegue senti-las desde muito cedo. Vale ressaltar que o aleitamento materno constitui apenas um exemplo, em termos de cobrança, entre tantos outros sofridos pelas mães. Mas como se tornar boa mãe com tantas exigências e obrigações? Na nossa sociedade, ser “boa mãe” parece sinônimo de “mãe perfeita”. E lidar com isso não é nada fácil.  A mãe precisa ser real e estar inteira, pois o filho necessita dela assim.

O que chamo de uma mãe, uma mãe real, de verdade, precisa, antes de mais nada, assimilar o fato de não ser boa o tempo todo, pois afinal de contas é humana.  A “mãe boa” precisa falhar, até mesmo para que a criança se desenvolva. É claro que as falhas não devem se tornar o padrão de cuidados – isso seria um desastre psíquico. Mas o que precisamos ter em mente é que viver a maternidade significa também aceitar a não perfeição e a inclusão das dificuldades, dúvidas, angústias, problemas e medos. A “mãe boa” deve também aceitar que não precisa estar feliz o tempo todo.  E isso não quer dizer que ela não possa ser feliz.

Cabe a cada mãe encontrar a resposta à pergunta formulada no início deste texto, sobre o que uma mãe deve fazer para ser perfeita. De minha parte, posso adiantar que o primeiro passo seria: “aceitar que ela não é”.


Fonte: Cynthia Boscovich - Psicóloga clínica, psicanalista. Membro regular da sociedade brasileira de psicanálise winnicottiana - www.cuidadomaterno.com.br - cynthia@cuidadomaterno.com.br - (11) 5549-1021

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