Hatha Yóga e suas origens milenares
Texto colaboração gratuita de Claudio Duarte - Jornal O Legado - Dezembro 2018
Hatha Yóga XLIII
Introdução
No capítulo anterior, ao abordarmos o Hatha Yóga, referenciamos especificamente os Textos Clássicos do mesmo, em especial o Gheranda Samhita e o Hatha Yóga Pradipika, porém, com um viés direto sobre os Pranayamas, ou técnicas avançadas de controle do Prana ou uma das energias sutis contidas no ar e, lá descritos amplamente. Citamos seus autores, sua temporalidade e vários dos seus aspectos sofisticados.
Importante lembrar, que de um ponto de vista científico, o principal papel da verdadeira Ciência é coletar e coligir dados, de tal forma que estes, possam passar a servir como pilares do conhecimento para a sociedade, sob todos os aspectos e sentidos. E para que esta possa usufruir de tais informações, com segurança e leveza.
Desenvolvimento
Neste capítulo vamos ampliar a abordagem, porém indo muito mais distante e tratando sobre as origens milenares e históricas do Hatha Yóga e de outras ciências anteriores a ele, mas que tem estreita ligação com o mesmo. Até porque, a palavra Yóga abrange um espectro mais amplo de ramos filosóficos - ao todo, sete - compostos por distintos grupos de textos clássicos e diferentes ensinamentos, muito embora todos voltados para uma mesma finalidade, qual seja a redescoberta de uma religação direta com a natureza e com a espiritualidade.
O que é Yóga
Quando abrimos a página 856, coluna do meio, a da direita e toda a página 857 do A Sanskrit English Dictionary - Etymologically and Philologically Arranged with special reference to Cognate Indo European Languages - by Sir Monier Moniel-Williams of Oxford at the Claredon Press, vamos encontrar o conceito clássico sobre a palavra Yóga - assim acentuada lá e em qualquer outro dicionário de Sanskrito - informando que esta é uma palavra Sanskrita - língua viva na Índia atual - que literalmente significa “união” e, que é palavra masculina proveniente da raiz gramatical sanskrita Yuj, que quer dizer “unir”.
Em seu aspecto mais amplo, ou seja, na prática, significa “a união do ser com a Divina origem da Criação”, isto, através da realização espiritual ou consciencial, que se denomina Samadhi. Todavia, é evidente que este é um aspecto distante do Yóga. Pois para se chegar a um estágio tão avançado, o ser ainda precisará cruzar toda uma série de etapas. Que quando praticadas com disciplina e seriedade, o conduzirão a esta iluminação. Todas estas etapas, são formadas por diferentes exercícios práticos, tipo psicofísicos, respiratórios, preparatórios, concentrações, meditações, conceituais. Além de uma base teórica e filosófica, que servirão de suporte seguro aos/às praticantes.
O que não é Yóga
Na atualidade, é muito “normal” seja por desconhecimento de causa ou por informações errôneas, confundir Yóga com coisas que nada tem a ver com este.
Por exemplo, às vezes, confunde-se Yóga com contorcionismos que não representam de forma alguma as suas práticas legítimas.
Outras vezes, pior ainda, confunde-se Yóga com algum tipo de religião ou seita.
Outras ainda, costuma-se rotular Yóga, como algum tipo de meditação, quando a verdadeira prática é representada por todo um conjunto de práticas, das quais uma delas é a meditação, e que seguem vários estágios de desenvolvimentos. E respeitando profundamente a capacidade de cada praticante e seu desenvolvimento gradual.
Então, é necessário e importante a divulgação de informações sérias e escrupulosas, sem tendências ou modismos, e que possa esclarecer de forma simples e direta às pessoas interessadas, o que realmente é o Yóga.
A Origem do Yóga
Um dos berços do Yóga é a Índia antiga, e é justamente nos grandes Textos Clássicos de lá, é que vamos encontrar todos os conceitos e fundamentos desta filosofia prática de vida e que tem em seus alicerces uma estrutura científica. Sob o ponto de vista cronológico, o Yóga existe a aproximadamente 15 mil anos. Porém, sob o ponto de vista prático, é impossível determinarmos a data de origem deste, pois essa, perde-se nas brumas dos milênios.
Os principais textos Clássicos da índia são os quatro Vedas, o Rig Veda, o Sama Veda, o Atharva Veda e o Yajur Veda.
Literalmente, Veda vem da raiz gramatical sanskrita que quer dizer visto, ou aquilo que foi visto através de muitos e muitos milênios e transmitido verbalmente de geração para geração, e com o surgimento da Escrita Perfeita - San Skrito ou Deva Nagari, passou a ser codificado por escrito.
Num conceito mais formal, Veda(s) quer dizer conhecimento ou sabedoria profunda e os quatro textos, englobam toda a história da índia antiga, sob todos os aspectos, sendo que no Rig Veda - o mais antigo de todos - já aparecem citações sobre práticas do Yóga e mesmo profundos conceitos filosóficos e éticos.
Os chamados sete Ramos Clássicos do Yóga
Existe uma estruturação nos Textos Clássicos da Índia, chamada Revelações e Memórias - ou Shrutis e Smirits - sendo que nas Revelações, estão os Vedas e outros textos. Enquanto nas memórias, encontra-se o Yóga e ainda outros textos. Sendo que o Yóga, codifica-se em sete ramos chamados clássicos e são os seguintes:
1) O Hatha Yóga com seus exercícios de relaxamento, psicofísicos, respiratórios, de reequilíbrio somatológico emocional, nervoso, psicológicos, de reequilíbrio glandular hormonal, de reequilíbrio do sistema imunológico, de combate ao stress, à depressão, à insônia, de eliminação de fobias, de medos, de angustias e ansiedades.
2) O Karma Yóga voltado para a conscientização e o auto controle das nossas ações cotidianas, buscando efeitos salutares para as mesmas e mitigando a Lei de Causa e Efeito natural.
3) O Bhakti Yóga com suas práticas devocionais e com seus suaves preceitos amorosos.
4) O Jnana Yóga com todas as suas práticas filosóficas de grande profundidade e desenvolvimento interior.
5) O Tantra Yóga com suas práticas disciplinares e austeras. Ao contrário das bobagens que se publica no Ocidente.
6) O mantra Yóga com suas práticas e desenvolvimentos dos sons primordiais, levando aos mais profundos níveis da consciência humana.
7) O Raja Yóga, o mais profundo e avançado de todos, com seus preceitos éticos, filosóficos e existenciais e com seus exercícios avançados, cujas práticas - entre elas a Meditação ou Dhyana - leva ao despertar da super consciência, êxtase ou Iluminação, em sanskrito Samadhi.
O Yóga no país
Aqui no país, por questões históricas, de certa forma até positivamente, o Yóga tem sido muito mais divulgado literariamente - ainda que com sérias ressalvas - do que propriamente praticado. Pois de forma direta, é ideal que para se praticar, uma pessoa tenha algum embasamento conceitual, teórico, filosófico. O que irá ajudar no desenvolvimento inicial das suas práticas. E poderão até mesmo discernir entre o joio e o trigo, sobre o que é correto e o que é incorreto, e saberão - ainda que superficialmente - se o que estão aprendendo é verdadeiro ou enganoso.
Ainda a este respeito, aquele/a que decidir praticar Yóga, terá algumas opções; ou torna-se um/a autodidata, o que nem sempre é aconselhável, dependendo das condições ou circunstâncias, ou procura um instituto, uma escola, um espaço ou um estúdio, neste caso, deverá procurar um bom local, informar-se a respeito das origens do mesmo, buscar professores/as honestos e de bom senso, dedicados e que conheçam realmente a estrutura do Yóga. Lembrando que o ramo clássico mais popular do Yóga no país, no Ocidente e no Oriente chama-se Hatha Yóga, devido às suas práticas fáceis, simples e orientadas para qualquer nível de praticante.
Pré Conclusão
É importante também esclarecer que, o desenvolvimento de um/a praticante dependerá muito mais dele do que do/a orientador/a. Pois este/a pode orientá-lo/a e ajudá-lo/a muito. Todavia, jamais poderá praticar pelo/a mesmo/a.
Então a partir desta sua nova visão sobre o que realmente é o Yóga, você poderá com serenidade interior iniciar suas práticas individualmente ou em um instituto ou escola.
Referências:
Gheranda Samhita
Hatha Yóga Pradipika
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