Um pouco de consideração da história da Astrologia primeiro. A Astrologia tem sido um corpo de conhecimentos bem consolidado e respeitado há milênios, em muitas sociedades e suas classes cultas e intelectuais e sempre foi praticada em muitos ambientes culturais e geográficos em praticamente todas as classes e tempos. Nos tempos modernos, cada vez mais presente, tem sido objeto de críticas e condenações negando-lhe sua condição de primeira e mais completa ciência séria, sendo relegada às margens remotas das fontes legitimas do conhecimento humano, inclusive dos matemáticos, e dos hoje chamados astrônomos. Porque a partir do século dezessete, a Astrologia veio a ser marginalizada dessa forma? E isto apesar de no século passado, um pensador tão proeminente quanto Jung deu-lhe maior legitimidade e proporcionou uma modernização e consolidação de conceitos.

Bem. A primeira razão, nunca afirmada, é por a Astrologia lidar com a natureza humana. É desprezado o fato de que antes até disso, ela constituía o mais amplo e profundo conhecimento factual sobre o nosso Universo e como ele funciona desde os primórdios, conhecimentos hoje usurpados pela moderna Astronomia. Aliás, para quem quiser pesquisar, os nomes Astrologia e Astronomia estão trocados, ou truncados, risos. Já falei sobre isso e em outra hora volto a explicar o equívoco agora “eternizado”.

De qualquer forma, essa marginalização não deve ser vista como conseqüência da revolução científica, e sim como um fator muito importante para às custas dela, Astrologia, dar legitimidade a algumas das “ciências” resultantes dessa revolução. Além da própria Matemática, Geometria, no lado das ciências exatas, a própria Astronomia, hoje chamada mais de Cosmologia; e é claro do lado das ciências humanas, as vertentes importantes das ciências que lidam com a nossa psique, principalmente a Psicoterapia criada por Carl Jung.

Como as causas dessa rejeição sistemática não são bem claras nem nunca foram de cunho dogmático, e foram abraçadas tanto pelas regiões (principalmente depois da Reforma Protestante); nem se pode negar que os conhecimentos e informações astrológicos são numerosos e constantes nas literaturas e livros sagrados legítimos do cristianismo e também do islamismo e que não conseguiram apagar ou converter... só se pode presumir que algo motivou um profundo preconceito. Este ano, haverá até uma Conferencia internacional em que o principal tópico será tentar identificar as raízes dessa marginalização.

Mas resta a verdade que a Astrologia, praticada seriamente, por pessoas estudiosas e que se dedicam a esses conhecimentos, continua não só a ser altamente respeitada por um número grande de pessoas, como também é talvez a única ciência que na realidade tem a capacidade de nos ajudar e conduzir ao autoconhecimento, autocompreensão para a construção de vidas emocional e espiritualmente equilibradas; apesar das crises e instabilidades prevalecentes em nossos tempos entre os interesses materialistas e políticas mecanicistas e opositoras da existência de algum Poder Superior metafísico por trás da existência humana e sua organização social, moral e ética.

Nenhum astrólogo sério e/ou profissional aceita a pecha de que a Astrologia não passa de uma prática divinatória. Sabemos que a Astrologia pode e deve mergulhar fundo primeiro na explicação da natureza humana de seus consulentes. Há uma capacidade de prever em Astrologia? Sim. Mas nunca como vaticínio inevitável ou predestinado de qualquer tipo de evento desejado ou potencialmente possível... Seus conceitos autênticos não vaticinam. Eles indicam a potencialidade dos caminhos que se oferecem para o interessado e as chances de êxito que uma escolha possa ter sobre outra. Mas jamais dizem que tem que ser assim ou que vai ser assim. Isso é o que lhe dá uma conotação perniciosa, reflexo de algo muito mais sério que remonta aos séculos que precederam o Renascimento Europeu.

Nos últimos séculos do que muitos chamam indiscriminadamente de Idade Negra da humanidade, a expansão da ignorância e da imprevisibilidade de sobreviver em sociedades doentes, violentas e guerreiras, elevou a necessidade humana por ter algo em que se agarrar. A procura de algum tipo de varinha mágica para reverter ou prevenir que tais crises pudessem atingir a este ou aquele.

Por este ou aquele, incluímos não só o mais humilde e humilhado servo dos feudos, como também aos seus chefes e lideres inclusive príncipes e reis. E é claro, não devemos esquecer os oportunistas que com algum conhecimento dos astros, logo viram nisso oportunidade para enganar os trouxas e ganhar dinheiro.

Esse é o período em que realmente, a Astrologia era considerada uma Magia. E se você ainda não sabia ou não tinha ouvido falar, a prática desse tipo de “astrologia” chegou a ter vasta literatura. PICATRIX, Necronomicon e muitos outros livros nos chegaram desse período. Mas o Picatrix é pouco conhecido nos tempos atuais. Abaixo uma cópia da capa. O nome é o que se dá hoje em dia. Historicamente, é um livro de cerca de 400 páginas publicadas na Europa Cristã, sobre magia oculta e o uso da astrologia como ferramenta divinatória. Originalmente foi escrito em árabe, supõe-se que no século 11 ou antes. Seu título original: Ghayat AL-Hakim, não é o nome do autor e sim significa “A Meta do Sábio”.

O original árabe foi traduzido primeiro para o espanhol por ordem do rei Afonso X, nos anos entre 1256 e 1258. A versão em Latim veio mais tarde, e foi produzida a partir da tradução para o espanhol, quando então recebeu o título Picatrix. Sua autoria é atribuída a Maslama ibn Ahmad al-Majriti, porém isso é incerto pois se trata obviamente de um compêndio de outras fontes anteriores, uma espécie de enciclopédia para o tempo, de práticas tradicionais de magia, ocultismo e afins. A sua importância é comparada à do Corpus Hermeticus para o Hermeticismo e as sociedades derivadas, como também às obras de Al-Bumasar e o conjunto das três correntes nos ajudam a compreender as circunstâncias sociais que conduziram ao Renascimento e eventualmente à Revolução Científica.

Com o Renascimento, que inclusive fortaleceu o poder da Igreja Cristã (Vaticano e seu papado) sobre a sociedade, mesmo apesar da Reforma Protestante; e sua luta contra o islamismo e suas idéias que ainda permaneciam fortes onde os árabes haviam penetrado na região, em países principalmente como Portugal, Espanha e França, além da própria Itália. Para se libertar dos árabes, era preciso também rejeitar suas idéias, mas preservar os frutos bons do que eles haviam trazido. O fator mais vulnerável e que se opunha aos dogmas cristãos seria justamente o ocultismo e a magia.

É interessante observar aqui que a própria igreja, seus cardeais e não menos alguns dos papas mais notórios, usavam a Astrologia!!! Alguns deles se tornaram entre os mais famosos astrólogos de seu tempo. Figuras como Nostradamus também utilizariam a astrologia para suas profecias famosas e consultadas até os nossos dias. Os conceitos em que se baseavam tais “análises” e “previsões” em sua maioria remontam ao Picatrix que seria, na sua versão “cristã” objeto de novas obras e limpeza do que era ostensivamente rejeitado pelos dogmas eclesiásticos. Muitas obras novas se seguiram e viriam a fundamentar a Astrologia pré-moderna.

A curiosidade digna de ser notada aqui é que o próprio Picatrix e suas fórmulas mágicas e iniciações ocultistas, preservaram o conhecimento milenar em que a Astrologia se embasava. O conhecimento do movimento dos astros e de como eles se entrelaçavam em suas órbitas e interagiam para nos emanar suas energias. Estudos “científicos”, inclusive da NASA, que determinaram extensas tabulas dos movimentos dos corpos celestes, chamadas de efemérides, constataram para sua surpresa, que as mais antigas eram quase tão precisas quanto as modernas obtidas por eles. Ou seja, apenas confirmaram o que já era sabido a milênios desde que a Astrologia era praticada.

Nomes famosos do Renascimento continuaram a desenvolvê-la, no entanto, e o ocultismo atribuído a ela. Nomes como Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo e muitos outros. O conhecido “Homem Vitruviano” (desenhado por da Vinci sobre uma estrela de cinco pontas em um círculo, e que dá ao corpo humano medidas de proporcionalidade, foi derivado de conhecimentos antiguíssimos de astrólogos e curandeiros.

Tudo isso contribuiu para a criação de uma longa e cuidadosa campanha de marginalização da Astrologia. Mas, o autor acredita que há uma informação que foi ocultada para tentar ocultar o ocultismo – o jogo de palavras aqui é intencional. É que a Astrologia mais antiga afirmava que fora legada à humanidade, à nossa espécie, como mapa do cosmos por mestre extraterrestres. Tema este que só voltaria a ser admitido por nós a partir de pouco mais de 50 anos atrás; com o advento de notícias sobre um Planeta X (Nibiru) e um reascendimento da teoria de que ETs teriam ajudado nossa espécie a evoluir de um estado supostamente selvagem para o nível de inteligência atual.

Para a Igreja, mesmo Renascentista, admitir tais coisas seria inadmissível. Seria o mesmo que negar a existência de Deus e de todo o fundamento em que ela se edificava. Mais uma forte razão para marginalizar a Astrologia. Mas assim como fizeram com a expulsão dos invasores muçulmanos da Europa; preservando somente o que era útil para alicerçar a intelectualidade e gerar uma revolução científica, também no caso da Astrologia, expurgaram o que não lhes interessava ou prejudicava, conservando somente o que haveria de servir de base real para esse movimento.

Na realidade, o Picatrix, uma raridade que só se encontra hoje nas melhores bibliotecas, é pouco conhecido ou mesmo consultado até pelos pretensos “magos” e “ocultistas” modernos, que hoje buscam suas varinhas mágicas em outras fontes.

Ironicamente, em 2002, a editora “Ouroboros Press” publicou os primeiros dois livros em inglês, e em 2010, outra editora com nome tão exótico quanto a primeira, a editora “Rennnaissance Astrology Press” (Astrologia Renascentista), publicou a primeira tradução supostamente completa também em inglês. [Veja a reprodução da imagem da capa dessa edição] Há outras edições do século passado nas línguas alemã, árabe, francês e espanhol no mercado.

Conhecer este livro para além e acima de quaisquer preconceitos, é importante, pois o astrólogo competente é cioso de conhecer os dois lados de todas as moedas.

 

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