O melanoma é o mais agressivo e mortal dos tumores de pele, pois tem grande capacidade de metástase e pode espalhar-se, rapidamente, para outros órgãos do corpo. O melanoma se origina a partir dos melanócitos, células produtoras de melanina, pigmento que confere cor à pele. Mais comum em adultos de pele clara, a neoplasia pode manifestar-se mesmo em áreas do corpo não expostas ao sol ou em lesões pigmentadas pré-existentes.
Na entrevista abaixo, o dermatologista Dr. Mauro Enokihara (CRM-SP 44.400), ex-presidente e atual conselheiro científico do Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM – www.gbm.org.br) e Conselheiro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), relata quais os fatores de risco, os sintomas e os tratamentos indicados para esta doença.
1. Existem diferentes tipos de melanoma. Como diferenciá-los?
A maioria dos melanomas é do tipo extensivo superficial, manchas com cores diferentes (heterocromia), bordas irregulares, tamanhos e formatos diversos, mais comuns nos membros inferiores no sexo feminino e no tronco, no sexo masculino.
A doença tem esta apresentação pois a disseminação é horizontal e geralmente se origina de nevos pré-existentes, diferente da forma nodular que são lesões sobrelevadas enegrecidas, que surgem sem pintas ou manchas anteriores.
Devemos ficar atentos a manchas acastanhadas ou enegrecidas que surjam nas extremidades, como mãos, pés e subungueais, predominantemente em negros e orientais. Todas estas formas são mais comuns em adultos jovens, em idosos que se expuseram muito ao sol, principalmente na face.
De evolução lenta temos o melanoma lentigo maligno. Existe a apresentação sem pigmentação, os melanomas amelanóticos, que não devem ser esquecidos e por esta dificuldade diagnóstica, muitas vezes são descobertos tardiamente. Além dos aspectos clínicos, a dermatoscopia pode nos auxiliar na suspeita e diferenciação do melanoma de outros diagnósticos.
2. Quais os fatores de riscos que podem influenciar no aparecimento do melanoma?
Entre os principais fatores podemos destacar:
pele clara e sensível ao sol, que se queima com facilidade;
cabelos loiros ou ruivos, olhos azuis ou verdes;
existência de muitas pintas espalhadas pelo corpo (100 ou mais);
pintas com formatos incomuns ou irregulares, geralmente em tamanho maior;
histórico de exposição excessiva ao sol ou utilização de bronzeamento artificial;
existência de casos de melanoma na família;
ocorrência prévia de melanoma e ter 50 anos ou mais.
3. Qualquer tipo de mancha ou pinta pode evoluir para um melanoma?
Felizmente não existem os melanomas “de novo” ou desde o inicio já são melanomas, e existem aqueles que se originam de nevos melanocíticos, principalmente os nevos atípicos.
4. Quais os sintomas de um melanoma? Como diagnosticar?
Mudanças de cor, formato ou tamanho de uma pinta podem ser indícios de melanoma – normalmente, a neoplasia começa a se desenvolver nessa região. Outras mudanças que podem sinalizar o aparecimento da doença são pintas que sangram, doem ou coçam. No entanto, nem todos os melanomas se desenvolvem em ou próximos a uma pinta já existente. Em alguns casos, a doença se aparece repentinamente na pele sadia. Portanto, é preciso ficar atento ao surgimento de pintas ou manchas.
5. Existe um perfil de quem é mais propenso a desenvolver o melanoma?
A exposição excessiva à radiação ultravioleta, ao ar livre ou em câmaras de bronzeamento, e qualquer histórico de queimaduras solares têm papel importante no desenvolvimento do melanoma, principalmente em pessoas de pele clara. Entretanto, nem todos os melanomas são decorrentes da radiação UV. Embora a maior parte desenvolva-se em áreas expostas do corpo, alguns casos da neoplasia podem ocorrer em regiões “cobertas”.
6. O melanoma é mais freqüente que outros tipos de câncer? Por que é o mais letal?
O melanoma é menos frequente que outros tumores cutâneos, representando apenas 4% dos casos. O fundamental é o diagnóstico precoce, pois os melanomas quando diagnosticados tardiamente apresentam altos índices de metástases, tanto linfonodal quanto por via hematogênica.
7. Existe uma estimativa de quantas pessoas são acometidas pelo melanoma durante o ano no Brasil?
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a incidência prevista para 2010 é de 5.240 casos da neoplasia em homens e 2.970 casos em mulheres.
8. Quais os tratamentos mais indicados?
O tratamento varia conforme as condições de saúde do paciente, localização, agressividade e extensão do tumor. O tratamento de escolha ainda é a cirurgia, e podem ser empregadas as seguintes técnicas:
Cirurgia excisional: exerese total do tumor com margens cirúrgicas de segurança, segundo protocolos internacionais orientados pela espessura de Breslow; em certas circunstâncias pode ser indicada a amputação de um dedo do pé ou da mão;
Alguns cirurgiões preconizam a Cirurgia Micrográfica, em que se retira o tumor e, em seguida, remove uma fina camada de tecido das margens laterais e profundas, que serão submetidas a um exame. O paciente aguarda enquanto estes fragmentos são processados por exame de congelação e examinados ao microscópio. Se houver alguma margem comprometida, é feita uma nova retirada de tecido das margens, até que todas elas estejam negativas. É um procedimento indicado para lesões recidivantes, ou seja, que foram tratadas e retornaram;
Discute-se a indicação da pesquisa do linfonodo sentinela e, se houver o comprometimento linfonodal, faz-se a linfadenectomia.
Dependendo do estágio do câncer, a quimioterapia, radioterapia e imunoterapia são outras modalidades terapêuticas que podem ser empregadas. Nos casos em que há metástases, a neoplasia não tem cura na maioria das vezes, mas existem diversas estratégias que permitem melhorar a qualidade de vida do paciente.
9. Existem drogas ou técnicas cirúrgicas em testes no Brasil e no mundo? Quais são as perspectivas das pesquisas?
Ainda não existe vacina terapêutica, somente vacinas que fazem parte de protocolos de tratamentos experimentais. Estuda-se muito biologia celular nos melanomas e em estudos experimentais a utilização de terapia-alvo.
10. Uma pessoa que já fez o tratamento tem possibilidade de desenvolver novamente o melanoma? Por quê?
Existe a possibilidade de um mesmo individuo, devido aos seus fatores de risco, vir a desenvolver um novo melanoma, e há a possibilidade de recidiva ou de metástases. Por esta razão é de fundamental importância o acompanhamento do paciente por anos, com consultas regulares e solicitação de exames complementares, tais como DHL, radiografia do tórax, ultrassom abdominal e outros, a depender do estádio deste paciente. Orientações sobre o auto-exame da pele e fotoproteção são indispensáveis.
Sobre a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD)
Fundada em 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD) atua nas áreas de Cirurgia Dermatológica e procedimentos relacionados, por meio da promoção do ensino, pesquisa, realização de congressos e eventos científicos.
Cirurgia Dermatológica é uma área da Dermatologia que engloba todos os procedimentos realizados na pele e tecido celular subcutâneo, sejam eles diagnósticos, cirúrgicos, cosmiátricos ou oncológicos.
A SBCD atua somente segundo normas éticas e padrões técnicos rigorosamente aprovados pela comunidade científica mundial. Com 1500 associados, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica está entre as maiores sociedades de Dermatologia do mundo.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica é formada por associados altamente qualificados, detentores de título de especialista e aprovados por rigoroso concurso e prova realizada e certificada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e Associação Médica Brasileira (AMB).
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