Parte 1
Em artigos anteriores, destacamos as diferenças entre as abordagens San-He e San-Yuan (agosto 16), e entre as escolas Ba Zhai e Fei Xing (setembro 16), sendo que o artigo de outubro de 2016 focou no tema específico dos 8 Palácios. A partir desse momento, iniciar-se-a uma série de três escritos sobre uma das visões mais dinâmicas do Feng Shui Tradicional, o Vazio Misterioso das Estrelas Voadoras. O tema será abordado em três etapas, segundo se segue:
• Parte 1: Introdução e noções de Destino, Sincronicidade e Probabilidade sobre a ótica Fei Xing;
• Parte 2: Construindo um Mapa de Estrelas – Tempo Intrínseco & Tempo Externo;
• Parte 3: Possibilidades de Experimentação Dinâmica, Harmonizações nos Novos Tempos e Conclusões;
Introdução
Um dos aspectos que não foi pontuado mas ficou implícito nos artigos anteriores é que na tradição San-Yuan, a terminologia Xuan Kong pode ser considerada um sinônimo da visão dos 3 Ciclos, como se relembra nas vertentes das escolas abaixo:
• Xuan Kong Zi Bai (Vazio Misterioso da Púrpura-Branca);
• Xuan Kong Fei Xing (Vazio Misterioso das Estrelas Voadoras);
• Xuan Kong Da Gua (Vazio Misterioso do Grande Hexagrama);
Nota-se, assim, que afirmar a utilização de uma técnica como sendo do tipo Xuan Kong Feng Shui é muito pouco, pois essa condição (Vazio Misterioso) apenas condiciona uma das várias interpretações matemáticas San-Yuan existentes, tendo em vista que, mesmo havendo similaridades estruturais entre elas (sobretudo o fator tempo), cada uma das escolas acima tem abordagens completamente diferentes no que tange a construção. Mas o que seria essa “visão matemática”, no conceito dos Três Ciclos? Talvez fosse mais coerente denomina-la como numerológica, pois salvo algumas exceções, a base fundamental da linguagem San-Yuan é através dos números do Luo Shu (Quadrado Mágico) e He Tu (Mapa do Rio), sendo que os trigramas (nos seus padrões de Xian Tian e Hou Tian Ba Gua – Sequências do Céu Anterior e Posterior / Os 8 Arranjos) são correlacionados de maneira indireta (mas não são menos importantes). Já na visão poética San-He, os referenciais se alteram, sendo os trigramas e Ba Guas os parâmetros de expressão em destaque.
Como origens conhecidas, as análises do Vazio Misterioso são averiguadas durante a Dinastia Tang (618-907 d.C.), com o mestre Yang Jun Song (834-900), autor do Qing Nang Ao-Yu. Nesse livro mencionava-se que os segredos do Tempo-Espaço se encontram no “Ai-Xing-Shu” (método da distribuição das estrelas num diagrama) e que a relação Ci-Xong (energias Yin e Yang) e do Wu Xing (5 ciclos do Qi) se expressavam no Xuan Kong. Na Dinastia Song (960-1279 d.C.), com o desenvolvimento muito grande do Feng Shui, já se conhecia o sistema Fei Xing (Estrelas Voadoras), com as pesquisas de predição se relacionando muito de perto com as teorias das mudanças (Yi Xue). A numerologia e simbologia do Ba Gua tornou-se uma “ciência mística”, que incluía também toda uma matemática nos estudos das probabilidades. Na região sul, a tradição San-Yuan cria uma metodologia estruturada na “Força ou Dinâmica Tempo”, com foco no Luo Shu.
Durante a Dinastia Ming (1368-1644 d.C.), é o período áureo do mestre Jiang Da Hong (talvez o mais famoso mestre San-Yuan e propagador dos ensinamentos Xuan Kong da época. Nessa fase, o Feng Shui modificou-se e fragmentou-se em diversas doutrinas e métodos. Adotou-se o sistema das 3 Eras e 9 Ciclos, e a Luo Pan (bússola geomântica chinesa), que antes tinha 16 anéis foi ampliada, chegando alguns a ter mais de 36.
No tempo dos Qing (1644-1911 d.C) a Escola Fei Xing tem seu apogeu, especializando-se nos estudos cíclico-energéticos das construções. No início da dinastia, havia pelo menos cinco maiores escolas fundadas na China, sendo que todas se intitulavam detentoras da verdadeira sabedoria divulgada por Jiang Da-Hong, o que fez surgir infinitas suposições a respeito das técnicas e teorias do Xuan Kong. Duas obras, entretanto, a primeira oriunda do mestre Shen Zu Nai intitulada Shen Shi Xuan Kong - Estudos de Shen sobre o Vazio Misterioso, e a segunda, pelo mestre Sam Chuk Yin (1848-1906) - Estrelas Voadoras do Mestre Sam, tornaram-se referências diretas sobre o estudo do tema até nos dias de hoje.
Noções de Destino, Sorte e Visão Probabilística
Observando-se as dinâmicas do Feng Shui, encontramos em contato direto com questões primordiais:
“A construção tem a capacidade de afetar diretamente as experimentações pessoais? Mais ainda, pode a casa definir a nossa qualidade de vida, bem como o potencial de incremento financeiro?”
Em outros momentos, discutiu-se razoavelmente a respeito dos tópicos acima, tentando-se desmistificar o fator transcendental e definidor das premissas energéticas externas sobre o homem. Fora as condicionantes de impacto físico catalogáveis no que tangem a manutenção da saúde em estudos geobiológicos, no Kan Yu, as influências sutis do dito Qi (Energia Vital) deveriam ser vistas de maneira um pouco mais céticas e menos definitivas (ou pelo menos como meio consciencial, não como ocorrência pragmática). Tendo em vista tal premissa, propõem-se a revisão de alguns termos usuais da Metafísica Chinesa (sobretudo como referencial nos Novos Tempos), tais como:
• Ming / Destino: situações que a pessoa atrai para gerar potencial de aprendizado (iniciado pelo momento histórico, características genéticas, estrutura familiar e social, e no sentido mais intrínseco, o tipo energético e específico de construção em que a pessoa é atraída). No sentido mais amplo, poderia se fazer uma correlação direta com o conceito de Potencial Kármico;
• Yun / Sorte: representa o potencial de lucidez e sabedoria que faz com que vivenciemos as situações de maneira harmoniosa ou desafiadora. Costuma ser sentida de maneira cíclica, podendo ser observada e averiguada antecipadamente, de acordo com os estudos cosmológicos pessoais e nas probabilidades de experimentação trazidas pela casa. No sentido mais holístico, correlaciona-se com o sentido de Meio Dhármico;
• Dao De / Virtude e Índole: potencial de sabedoria intrínseca que o indivíduo “expressa” no seu cotidiano e nas ações no mundo. Diálogo interior entre a ética e a moral pessoal;
• Dou Shu / Educação e Esforço: caminho de vida e metas pessoais. Referente ao trabalho necessário para se chegar ao equilíbrio dinâmico e maduro, à abundância;
Nesse momento é importante uma distinção entre os termos karma e dharma que me refiro nesse instante aos sentidos comumente conhecidos no misticismo espiritualista. Nesse ponto, procuro esclarecer que a visão que se utiliza aqui é a de que o Karma (carma, kharma, etc) não é algo que se tenha que passar ou vivenciar pelo que se fez de errado num outro momento, seja uma maldade a alguém numa outra vida, seja por laços eternos familiares. Antecipando que talvez os tais laços eternos sejam, na verdade, internos, karma seriam simplesmente os eventos que atraímos para nós mesmos, como necessidade de experimentação, por carência de compreensão. Nesse sentido, atrela-se o potencial kárrmico não necessariamente ao resultado, mas à possibilidade de se estimular escolhas até mesmo em meio a panoramas desafiadores, para se prover referenciais mais sábios a cada experiência. Por esse enfoque, não se “queima”, limpa, pula ou se evita um karma “ruim” por alguma técnica ou por “bom-mocismo”, mas sim se vivencia, se possível de maneira observadora e lúcida (sendo o ruim por conta da tradução emocional de quem está passando por ela).
Se karma é “ação vivida”, dharma (darma, etc) talvez não seja uma missão existencial ou o que se deve fazer, benevolentemente, para se obter “créditos” de bem-aventurança ou sentido de merecimento, como muitos acreditam. Na perspectiva utilizada no artigo, dharma se refere à infraestrutura pelo qual o karma se manifesta, tal qual o exemplo de uma família ser um potencial dhármico para que os karmas individuais possam ser otimizados. De maneira similar, sob essa ótica sugerida no Feng Shui, a construção é exatamente o meio dhármico mais favorável para que as determinadas condições (sendo possivelmente algumas de ordem kármica) sejam vivenciadas pelos moradores (que foram “atraídos”, não por um esquema de sorte ou azar, mas por uma necessidade de experimentações que esse molde arquetípico entendido como lar pôde proporcionar, nesse momento, sobre determinadas características específicas, que geralmente são entendidas / reduzidas à escolha de uma moradia por um critério apenas lógico, seja econômico, estético, etc, ou até mesmo por gosto intuitivo-emocional).
Dessa feita, o conceito de Visão Probabilística utilizada pela metodologia do Xuan Kong Fei Xing seria uma ferramenta para se avaliar as tendências de ocorrência que os moradores atraíram (potencial khármico) pelo viés de um campo (ou meio) dhármico que possa otimizar tais experimentações e escolhas. Referimo-nos, no caso, à construção. Nesse sentido imanente, a edificação seria como um espelho dos processos pessoais, não como fator externo definidor das consequências do cotidiano. Assim, os eventos averiguados (bons ou desafiadores) seriam “apenas” aspectos intrínsecos ao próprio homem, destacados pelo olhar da técnica em particular, sendo que a melhora não se baseia somente na modificação ambiental ou inserção de objetos harmonizadores, mas na reflexão que tais mudanças (possíveis ou não) estimulam nos usuários. Caberia ainda a esse indivíduo entender o sentido de responsabilidade embutida nas possibilidades de escolha oferecidas pelo “índice” casa, independentemente dos resultados almejados, já que muitas vivências se aceleram pela necessidade consciencial dos usuários, como potencial kármico. Em outras palavras, as experimentações produzidas (mesmo que ocorram intervenções requalificantes) talvez não devessem ser abordadas para se tornarem apenas mais fáceis, amigáveis ou reconfortantes, mas sim para serem importantes e relevantes. Talvez essa seja o papel essencial da jornada que se está iniciando, a das Estrelas Voadoras...
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