Escrever sobre Feng Shui e Metafísica Chinesa é, ao meu ver, fácil. Digo isso não de maneira petulante (pois o fundamento é muito complexo e estou há anos-luz de decodificá-la totalmente), mas me refiro a uma habilidade mínima que sinto ter desenvolvido com o tempo, e que me é comum. Analisar fatos, tendências, descrever harmonizações, indicar caminhos supostamente favoráveis, tentar minimizar impactos nocivos, etc. Se por um lado, falar pelo pressuposto de uma sabedoria ancestral através do escopo de uma escola com um nome misterioso pode ser uma motivação, também pode criar zonas de conforto perigosas, uma legalidade sistêmica com ar metafísico, causa abstrata digna de atenção concreta. Mas seria possível, num artigo em que premissa seja o Kan Yu ou assuntos correlatos, abordar temas delicados sem se ater a combinações de números, portentos psicoemocionais, hexagramas e binômios (ou qualquer outra muleta místico-esotérica)? Na opinião desse escritor, diria que sim, mas para tanto, seria necessário estimular o potencial de sensibilização pessoal, não para descartar os métodos usuais de análise do ambiente, mas sim ampliá-los à demanda dos Novos Tempos (termo explicado em vários artigos anteriores).

Após um início de 2019 muito conturbado, sobretudo no Brasil, com polarizações cada vez mais intensas que afetam o cenário sócio-político não apenas entre a oposição e a situação, mas sobretudo, escancarando os aspectos duais também na infraestrutura do governo, uma briga territorial de poder, controle e sabotagem até entre grupos irmãos. Nesse sentido, observa-se que as expectativas sobre os “salvadores da pátria”, limpeza total da sujeira alheia e o sentimento de resolução dos problemas vai sendo substituído por um silêncio obtuso, quase constrangido, já que a reatividade, o temor e o torpor é gerado continuamente pelo homem (incluindo eu e você, leitor) e volta a ele, como ironia pronta chamada instabilidade e impermanência, seja esta como contorno de desastres naturais e acidentes que guturalmente impactam nossas vozes e ouvidos ou mesmo em esperanças tímidas que sucumbem pesarosas em sofrimentos de mal-estar cotidianos. “Que o ano se encerre e rápido”, ouvi de um radialista impactado pela perda afetiva repentina em formato de helicóptero. Mas haveria uma causa sutil (além do problema maior, o Ser), que exaltasse ainda mais as interfaces desse humano, demasiadamente humano? Vamos, portanto, revisar o tema da sutilização.

Sutilização e Novos Tempos

Salienta-se que essa parte se refere especificamente a opinião deste autor, baseado em pesquisas teóricas e práticas realizadas nos últimos anos. Texto adaptado da obra Feng Shui Clássico nos Novos Tempos (2015).

Parte-se da hipótese de que o resultado do que conhecemos (ou conhecíamos) como equilíbrio dinâmico dos aspectos físico-energéticos se baseia numa interação de relações complexas provenientes não somente do planeta, o que denominamos de Natureza (Di Qi) e de nós mesmos (Ren Qi), como também das inter-relações gravitacionais da Terra com o sistema solar, as estrelas da nossa e de outras galáxias os e buracos negros, próximos e distantes (Tian Qi). Sobre esse aspecto, uma modificação nesses eixos de estabilidade “cósmica” poderia gerar um efeito que modificaria, em tese, o funcionamento do que se conhece como realidade física. E parece que foi isso que aconteceu.

Como processo, naturalmente tal condição vem num crescente secular, no que se pode denominar de sutilização da matéria. Nos anos recentes, os choques energéticos vinham sendo cada vez mais constantes e menos espaçados (mais do que nas últimas décadas), sendo que alguns deles tiveram grande intensidade e impacto, tendo um pico estrutural em 2012.

Sutilização refere-se ao processo que culmina na diminuição da “densidade material”, fazendo que a mesma torne-se, como o próprio termo explicita, mais sutil, menos estável e muito mais influenciável pela comunicação proveniente do intercâmbio energético-espiritual. Em suma, estamos mais sensíveis, percebendo mais as instabilidades emocionais que antes eram passiveis de serem mascaradas razoavelmente e as incertezas da própria existência, acelerando o que os físicos teóricos provavelmente chamariam de colapso das probabilidades da função de onda quântica e, por conseguinte, estimulando, sobretudo, as somatizações desses potenciais reativos e caóticos no processo biológico da vida. Sob esse ponto de vista, pode-se dizer que estamos cada vez mais responsáveis pelas consequências das nossas escolhas e pela manutenção da energia pessoal partir de agora, o que nos torna, em parte, coparticipantes globais (não no mero sentido “místico new age do amor incondicional” ou no pensamento positivista do coaching), mas na reflexão das posturas mais intrínsecas que reverberam a pessoa. Parece-me que o efeito reativo dessa mudança de funcionamento levanta uma questão provocativa: o quanto esperamos em demasia por uma solução externa, algo o que resolva o problema para nós sem que precisemos sair da zona de conforto e nem questionar os nossos hábitos?

Um fato parece estar claro: estamos sentindo mais os processos intra e interpessoais (empatia). Como estamos condicionados a um sistema de forças e não de ideias, costumamos responder aos incômodos existenciais com um vigor exasperado, seja no aumento da dose de remédios, na reatividade emocional, no radicalismo do discurso conservador, na intensidade dos estímulos catárticos que ampliam a distração aos pés da alienação ou em movimentos moralistas duais que geram mais desapontamento pelas expectativas não atingidas do que a harmonia prometida nas extremidades.

Parece-me que se houve uma mudança estrutural em 2012 que determinou uma nova maneira de lidar com a própria vida, os picos de sutilização não se encerraram (talvez continuem por um bom período). Desde janeiro de 2019, uma aceleração forte sugere impactar a Terra e o seu meio, o que evidencia, além do que já foi discorrido acima, um possível choque também em questões tecnológicas, como a falta de estabilidade em aparelhos eletromagnéticos, diminuição da vida útil de pilhas, baterias, entre outros, o que interferiria, diretamente, na maneira como atuamos na interface do cotidiano contemporâneo. Aliás, essa mexida nos testa em outra bateria, a pessoal, no caso, o sentido de brio (ou a falta dela, a covardia).

Nasce aí uma nova problemática: falar de sutilização pode, já a curto prazo, substituir a justificativa do mal-estar que outrora pertencia a uma outra escusa: política, recessão, violência, stress ou até depressão. Ou seja, falar de Novos Tempos, em tese, seria algo demasiado redundante, um “chover no molhado”, anunciar a vida da pior maneira possível: tal qual ela é, mas agora com o substrato de um “cosmo-abstracismo” genérico, a bizarrice do “estou mal hoje porque sutilizou o planeta novamente”. Sim, nesse caso tanto faz atribuir uma causa “fenshuizística” a sua dor ou dar uma desculpa “sutilizante” à angústia sem fim.

Assim, independente das influências externas (Lua, quadraturas, espíritos zombeteiros ou Novos Tempos), como anunciaremos, a nós mesmos, as escolhas de modificação interna, a despeito de tais impactos? O que faremos com isso (e com tudo mais)? Ou ficaremos num anacronismo por uma busca de um passado perfeito ou nas generalidades atuais do “Acho que o clima vai mudar hoje, viu” ou melhor, “Acho que vai sutilizar, hein”...

Texto e imagem colaboração de Marcos Murakami - Diretor do Instituto Eternal Qi - Centro de Ensino e Pesquisa - Ministrante de cursos de Feng Shui - (11) 2959-2668 / 98148-4816 - falecom@institutoeq.com.br - Jornal O Legado - Março 2019

 

 

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