Recentemente, ao dar uma carona de carro a um jovem da “geração millennial”, pude observar seu total incomodo por eu não utilizar o aplicativo e “confiar apenas na minha memória”. Ele realmente estava aflito, ao ponto de contestar minha capacidade de chegar ao endereço.

Enquanto eu afirmava que não havia necessidade do aplicativo, por ser um local que eu conhecia muito bem e onde havia passado boa parte de minha vida, aquele jovem, movido de toda retórica peculiar de quem é super confiante na tecnologia, afirmava que eu estava sendo estúpido, pois o aplicativo sempre mostraria o melhor caminho e me levaria para longe do trânsito.  

 Diante dessa atitude, de evidente inquietude misturada com arrogância, decidi ativar o aplicativo com a condição de “fazer o meu caminho” e ver quem chegaria mais rápido – eu ou o Waze. Mesmo chegando com 15 minutos de antecedência, o jovem não se convenceu e afirmou que eu havia “tido sorte”, pois o trânsito liberou justamente no meu caminho.

 Quando tentei conversar com o jovem sobre o ocorrido, falando sobre a necessidade de ter “pensamento crítico” e não confiar totalmente em algoritmos e sistemas, ele me olhou com desprezo e disse que não estava afim de saber detalhes, bastava saber que o aplicativo teria a resposta que buscava.

Se essa atitude se restringisse apenas a um jovem imaturo, seria até aceitável diante de um cenário que apresenta facilidades tecnológicas incontestáveis, contudo o que estamos vendo é uma “contaminação” desse comportamento em todos os níveis – como se todos quisessem ser “millennials”.

Ao buscar um endereço no Waze, não estamos mais avaliando o resultado apresentado e, mesmo quando ele indica um caminho 60% mais longo, acreditamos que esse é, sem dúvida, o caminho mais rápido.

Esse é um fenômeno assustador, pois vemos que, assim como os jovens da “geração millennials” - aqueles que nasceram a partir de 1996 – vemos que todos adotam em algum nível, a postura de espectadores dos acontecimentos. Usamos como base fundamental, as intensas postagens nas redes sociais e atribuímos a elas, condições de verdade sem nem ao menos criticar.

Confiamos totalmente em postagens cheias de informações superficiais e fragmentadas sem considerar a mínima possibilidade de serem falsas ou equivocadas. De fato, chegamos a considerar que, se não vimos nas redes sociais, provavelmente não é uma informação verdadeira.

 O “pensamento crítico” está cedendo lugar à resposta pronta e rápida que se encontra a um clique, não mais apenas no Google, mas também no Facebook, Instagram ou “naquele grupo de Whatsapp”.   Estamos chegando a uma condição social preocupante, onde já não se avalia mais o que passa diante de suas retinas, vidradas em “smartphones”, dos quais somos cada vez mais dependentes.

A maior preocupação está justamente na indiferença e omissão que se observa diante de toda essa realidade. Assim como num cenário “Walking Dead”, vemos pessoas agindo como “zumbis”, sem se olhar, sem criticar, sem reagir, mesmo quando a situação precisa de uma atitude humana.  

É essa a realidade que devemos deixar de exemplo e modelo para a “geração millennials” e as próximas gerações, ou será que devemos fazer algo a esse respeito?


 
Sobre o autor:
Sidnei Oliveira - www.sidneioliveira.com.br - Mentor, escritor e consultor de carreira, expert em conflitos de gerações. Autor de oito livros sobre liderança e best-sellers da série Geração Y.
É idealizador e fundador da Escola de Mentores, espaço para formação mentores com metodologia exclusiva para elevar a maturidade do jovem.
Foi executivo e diretor em instituições Financeiras e fundador dos sites Achei!! e Zeek! Também articulista e colunista na exame.com, onde reflete sobre carreira, relacionamentos e estilo de vida dos Jovens talentos de todas as gerações.
 

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