Nos tempos imemoriais, os chineses encontravam as direções cardiais observando o movimento do Sol durante o dia e da Lua e estrelas durante a noite (principalmente da direção da Estrela Polar no momento de sua passagem meridional). As noções primitivas encontradas no Huainanzi e Zhoubi descrevem como sendo um quadrado a relação entre o nascer e o pôr do sol. Dessa maneira, considerava-se o Céu como um círculo (abóboda celeste) e a Terra na forma quadrada (conceito de terra plana / ordem e limite); esse casamento de formas pode ser vista nos sítios (resquícios) da cultura Hongshan (~3500 a.C.), no jogo ancestral denominado Liu Bo (uma das possíveis raízes do xadrez) e no Templo do Céu em Beijing.



Há pelo menos 7.000 anos, os chineses desenvolveram domínios maiores para separar o Céu - daí a tradição dos Cinco Animais Sagrados (Serpente Amarela, Pássaro Vermelho, Dragão Verde, Tigre Branco e Tartaruga Negra). A partir desse rústico estudo foi possível estabelecer as bases dos quatro pontos cardeais e das quatro diagonais, que na posteridade relacionaram-se com os 8 Trigramas apresentados por Fu Xi.

Embora a agulha magnética seja conhecida na China por mais de 3.000 anos, foi no período dos Estados Litigantes (475-221 a.C.) que um astrolábio para cunho divinatório chamado Liuren foi inventado. Durante a dinastia Han (206 a.C.-220 d.C), surgiu um desenvolvimento da anterior (Shi) denominado Si Nan ou Shi Pan. Na sua base, uma colher imantada representava a Bei Dou (Ursa Maior) e variadas inscrições, com destaque aos anéis simbolizando as harmonias universais Di Pan / A Terra, e Tian Pan / O Céu. Os padrões observados nessa bússola ancestral formaram as raízes das Luo Pan hoje utilizadas.


Durante o período Song (960-1279), de acordo com o livro Ming Xi Bi Tan (Registro das Conversas de Ming Xi, ou A Primavera Sonhada), escrito pelo cientista Shen Kuo, existiam quatro principais tipos diferentes de agulhas magnéticas, dentre elas a “molhada e a seca”. No final dessa dinastia (a partir de 1127), o desenvolvimento da pesquisa marítima e o aumento da precisão das agulhas abriram margem à formação da bússola San-He. Mas foi durante a dinastia Ming e Qing (1368-1911) que os anéis da Luo Pan se tornaram detalhados e muito mais complexos. Clássicos como Qin Ding Luo Jing Jie Ding foram escritos, e serviram de pilares para entendermos a profundidade e sabedoria contida nas bússolas de Feng Shui, tanto modernas quanto ancestrais.

Estudar os anéis de uma bússola chinesa é um meio extraordinário para ir fundo nos significados astrológicos, matemáticos e mitológicos do universo chinês, e desmistificar, por completo, os conceitos superficiais que Vento (Feng) e Água (Shui), Céu (Kan) e Terra (Yu) adquiriram na atualidade. Assim, a Luo Pan, mesmo não sendo obrigatória numa consultoria, em muito auxilia o estudioso, principalmente nas técnicas mais avançadas da tradição San-He (3 Harmonias) e San-Yuan (3-Ciclos).

Os Principais Anéis de uma Luo Pan



• Posicionamento Central (Lago Celestial): agulha magnetizada, e uma linha-guia central desenhada na base;
• Primeiro Anel: posicionamento dos trigramas do Céu Anterior (antes da manifestação; representa os arquétipos de equilíbrio potencial das energias celestes);
• Segundo Anel: posicionamento dos Números do Quadrado Mágico (representa a dinâmica das energias terrestres);
• Terceiro Anel: posicionamento das 24 Montanhas (casamento entre os 8 Trigramas do Céu Posterior com os 5 Ciclos do Qi nas polaridades Yin e Yang e dos 12 Animais (Ramos Terrestres);
• Quarto Anel: posicionamento dos 12 Animais Terrestres (Rato, Búfalo, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Galo, Macaco, Cachorro e Javali - representando a dinâmica das fases da energia terrestre);
• Anéis Avançados: posicionamento dos 384 Yaos (identificam os graus precisos das direções benéficas ou maléficas para túmulos / Yin Zhai, e para construções – Yang Zhai), das 28 Mansões Lunares, dos 60, 72 e 120 Dragões, dos 60 Binômios (posicionamento das Imagens Melódicas dos Binômios / Tronco Celestial + Ramo Terrestre), entre outros;



Diferenciando as bússolas

• Simples: são as mais conhecidas; possuem, além da agulha magnetizada, o anel referente aos graus. Para o uso no Feng Shui, principalmente nos métodos básicos do Ba Zhai e do Xuan Kong Fei Xing, recomenda-se a bússola para mapas (com base transparente);

• San-He Pan: utilizada pela Tradição das 3 Harmonias. Nessa bússola, observam-se 3 anéis de 24 Montanhas: a Di Pan (prato da Terra - equivalente ao Norte Magnético - mede a construção), a Ren Pan (prato do Homem - 7,5 Graus à esquerda do Norte Magnético - mede o entorno) e Tian Pan (prato do Céu - 7,5 Graus à direita do Norte Magnético - mede o movimento do Qi em direção à construção). Muitos estudiosos concluem que essa diferença de graus baseia-se no conceito de declinação magnética;

• San-Yuan Pan: utilizada pela Tradição dos 3 Ciclos. Possui somente um anel de 24 Montanhas (Di Pan - prato da Terra). Escola baseada nos estudos das construções, possui como anéis específicos o posicionamento matemático dos Hexagramas na escola Xuan Kong Da Gua Da Gua, e das 24 Quinzenas Solares (muito usada para se determinar as datas propícias para aberturas ou consagrações de acordo com a direção do imóvel).

• Zhong He Pan: associação das tradições San-He e San-Yuan numa única bússola. Possui tanto os 3 Anéis de 24 Montanhas e as 28 Mansões Lunares, como também a escola avançada Xuan Kong Da Gua;

• Luo Pan ocidentais: com um misto das duas maiores tradições, geralmente evidenciam os 8 Portentos da Escola Ba Zhai, o que não ocorre tanto nas similares orientais. Pode ser encontrada também em versões adaptadas para o Hemisfério Sul;



Assim, a Luo Pan é imprescindível para os consultores e pesquisadores avançados do Feng Shui Tradicional. Mais do que apenas um curioso aparato de organização espacial e orientação para direcionamento e posicionamento de túmulos, construções e cidades antigas, essa ferramenta resume em si, possibilidades de medições e qualificações dos mais variados tipos de energia, passando pelos referenciais geobiológicos, radiestésicos e, além disso, abarcando muitas técnicas e escolas do Kan Yu. Além de ser um ábaco para olhares treinados, é um complexo estudo do pensamento metafísico ancestral chinês em formato simbólico-arquetípico sobre a arte das possibilidades. São elas, enfim, os benefícios probabilísticos da interação entre a Natureza, a Casa e o Homem, enquanto fator de harmonia e busca de sentido no ato de bem-morar. Não estaria faltando um pouco desse olhar no mundo hoje?


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