Periodicamente, recebo e respondo questões sobre a dinâmica profissionalizante do Feng Shui Tradicional. Questionamentos sobre a duração das formações, quanto tempo é necessário para se tornar um bom consultor energético de ambientes e se tal estudo pode atender apenas a uma linha específica, comumente (e erroneamente) chamada de escolas da Forma, Bússola ou Moderna (Chapéu Preto) se tornam comuns. “Em dois ou três fins de semana é possível já se tornar um consultor (geralmente em cursos que se autodenominam como Básico, Intermediário e Avançado-Profissionalizante)?”. É necessário se aprofundar em todas ou uma ou duas visões já são suficientes para um bom trabalho?”

Por questões óbvias, não serão considerados como relevantes os eventos que “formam profissionais qualificados” em apenas algumas horas-aula, nem estudos que prometem milagres sem ao menos uma visita ao local, com as averiguações sendo feitas apenas à distância e as soluções, efetivadas rapidamente apenas sobre o pretexto dos famosos “cantos temáticos da casa”.

Além da questão qualitativa, averiguo que o problema sobre as afinidades de uso efetivo das técnicas não está na opção por um ou outro enfoque, mas sim isolá-los em universos opostos e instransponíveis. O recomendado seria aprender variadas linhas, permitindo, assim, que a experiência prática nos demonstre os melhores métodos para cada caso.

Fundamento teórico estrutural

Com o intento de esclarecer tanto os estudantes no assunto quanto os clientes que buscam parâmetros que qualificam um bom consultor, uma formação referencial, independentemente da especialidade escolhida, seria, na opinião de quem vos escreve:
 
Contextualização:
 
• História e evolução do Feng Shui, incluindo o estudo contextual das dinastias chinesas principais;
• Sabedoria ancestral chinesa e metafísica (princípios do Yin-Yang, Wu Xing, He Tu e Luo Shu, Trigramas, Hexagramas e os desdobramentos Xian Tian e Hou Tian Ba Gua);
• Princípios da sabedoria taoista;
 
Relacionado às Técnicas de Feng Shui – Tradições e Escolas:
 
San-Yuan (3 Ciclos):

• Luan Tou Feng Shui (Estudos Formais);
• Escolas San-Yuan Ba Zhai (Métodos dos 8 Palácios pela perspectiva dos 3 Ciclos);
• Xuan Kong Zi Bai (Vazio Misterioso da Púrpura-Branca);
• Xuan Kong Fei Xing (Vazio Misterioso das Estrelas Voadoras);
• Xuan Kong Da Gua (Vazio Misterioso do Grande Hexagrama);
• Shui Long Pai (Técnica dos Dragões de Água);
• San-Yuan Luo Pan Xue (Estudo dos anéis da bússola Luo Pan dos 3 Ciclos);
 
San-He (3 Harmonias):
 
• Xing Shi Pai (Análises Formais Complexas);
• Escolas San-He Ba Zhai (Métodos dos 8 Palácios pela perspectiva das 3 Harmonias);
• Shan Shui Long Xue (Estudo dos Dragões de Montanha e Água);
• Escola dos 60, 72 e 120 Dragões;
• San-He Luo Pan Xue (Estudo dos anéis da bússola Luo Pan das 3 Harmonias);
 
Relacionado aos Métodos Intuitivos de Harmonização:
 
• Budismo Tântrico do Chapéu Preto / Escola Californiana (origens, evolução histórica, técnicas, fundamentos e variações regionais);
• Metodologia das ativações, consagrações e limpezas energéticas de ambientes / space clearing, pela visão do Chapéu Preto e outras;
 
Relacionado ao Estudo das Energias Físicas no Meio Ambiente:
 
• Geobiologia / Cosmogeobiologia (estudo das redes geomagnéticas terrestres, dos veios de água subterrâneos, problemas geológicos, poluição magnética, etc.);
• Radiestesia / Ondas de Forma / Radiônica (mensuração e possíveis soluções);
• Geometria Sagrada (proporções e medidas auspiciosas);
 
Relacionado às noções básicas de arquitetura, estética e edificação:
 
• Evolução estético-construtiva da arquitetura antiga e moderna;
• Aspectos gerais sobre arquitetura de interiores e decoração;

Relacionado aos Estudos Cosmológicos (Pessoais):

• Jiu Gong Ming Li (Astrologia das 9 Constelações);
• Zi Ping Ba Zi (4 Pilares do Destino);
• Ming Shu Ba Zi (4 Pilares – Visão Poética / Animais Arquetípicos / Imagens Melódicas);
• Zi Wei Dou Shu (Astrologia Polar);

Relacionado aos Estudos de Datas Propícias:

• Don Gong (técnicas gerais de seleção de datas);
• Xuan Kong Da Gua (datas propícias pelos 64 Hexagramas);
• 28 Xius (Mansões Lunares);
• 24 Jie Qi (Padrões Sazonais);
• Jian Shu Xue (Estudos dos Deuses Solares);
• Qi Men Dun Jia (Escola do Portal do Exército Místico);
 
Relacionado aos Estudos em Sincronicidade:

• Yi Li Yi Xue (Interpretação poética dos Hexagramas / Yi Jing);
• Xian Shu Yi Xue (Estudo dos padrões matemáticos dos Hexagramas pelos métodos Wen Wan Gua / Na Jia Yi Jing e Mei Hua Yi Shu / Flor de Ameixeira);
• Métodos clássicos e modernos de tiragem e interpretação;
• Mian Xiang (Aspectos gerais de Fisiognomonia / Leitura Facial Chinesa);

Relacionado à saúde física, energética e à reflexão:

• Referências básicas de acupuntura (meridianos principais, órgãos e vesículas relacionadas ao Wu Xing / 5 Ciclos);
• Estudos de Biótipo (constituição energética do ser humano segundo a visão chinesa);
• Bioenergia (entendimento e condições de equilíbrio dinâmico referente às trocas energéticas entre o corpo físico, campo bioelétrico, corpo espiritual e a aura, bem como as interrelações destes com o meio externo). Técnicas energético-espirituais de manutenção, proteção e reequilíbrio pessoal;
• Espiritualidade / Conscienciologia (estudo, pesquisa e aperfeiçoamento consciencial referente aos parâmetros sensíveis e ampliação do potencial de neutralidade e os impactos da sensibilidade nos Novos Tempos);
• Referencial reflexivo (análise e visão crítica, estudo das origens dos modelos de pensamento, capacidade de comparar e inter-relacionar os fundamentos da construção de conceitos e paradigmas).

Assim sendo, mesmo que não consideremos alguns desses tópicos, os principais (que atendem exclusivamente à dinâmica do Kan Yu e da sabedoria chinesa) com certeza demoram mais tempo de assimilação e domínio do que algumas horas, dias ou semanas.

Ou seja, não houve e jamais haverá, de fato, uma formação “express” de qualidade na arte do Bom Lugar, mesmo em tempos contemporâneos em que o selo de empreendedorismo vencedor esteja vinculado às oportunidades de mercado com agilidade formulaica. O caminho, como todos que são realmente relevantes, é longo, difícil, por vezes desgastante e nada simplificado. Mas também muito satisfatório, se a premissa for, estruturalmente, baseada no autoconhecimento e não no incremento financeiro rápido ou em soluções imediatistas. Desta forma, para quem for trilhar essa desafiadora pesquisa fengshuisística, uma recomendação: inicie tentando ficar atento para não ser engolido pelo pesadelo do modismo Coaching, seja este de cunho material, existencial ou, no nosso caso, ambiental (já deve haver muitos por ai!). Procure incorporar complexidades, refletir sobre desafios, entender as incoerências, ter coragem para desconstruir as Verdades, lidar com as instabilidades e incorporar a incerteza e impermanência, sem resignação ou vitimização.

Poder se tornar um Self Made Man (um escultor obreiro de si mesmo), em vez de buscar incessantemente coaches de sucesso que brotam com sorrisos prontos, respostas fáceis e estratégias de ação infalíveis em tempos de crise. Mas é preciso coragem para desterritorializar o que achamos que sabemos ou queremos. E isso, me parece, é para poucos. Então, quem se atreve?

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