Curso: Ciência Esotérica - Aula nº 1 - Sabedoria de vida

Considerações sobre alguns aspectos da sabedoria humana aplicada à vida espiritual

Introdução:

Eu vou começar este curso com uma pergunta óbvia: O que é esoterismo? Esoterismo é uma tradição espiritual milenar da humanidade com a qual nós, (principalmente os ocidentais), perdemos cada vez mais contato no decurso dos últimos séculos. Em suma, esoterismo é a ciência do bem viver.
No seu sentido mais profundo, o esoterismo não pode ser ensinado ou aprendido, mas apenas vivido e, o mais importante: sentido.

O esoterismo não pretende afastar as pessoas da vida, mas sim conduzi-las exatamente para o centro da vida. Portanto, isso também significa o confronto com o que se considera feio, animalesco, com o mundo bem simples da forma como ele foi criado. Quem quiser vencer um oponente, primeiro tem de conhecer suas características e os seus pontos fracos. Quem deixar de fazer isto, inicia a batalha como perdedor. O conhecimento esotérico não deve conduzir a pessoa à fuga do mundo, mas destina-se a ajudá-la a viver da melhor maneira possível.

O termo esotérico tem origem na palavra grega esoterikos, que significa interior, oculto, em casa ou, numa definição bem aleatória, “não destinado ao público”. O conceito contrário é exotérico e significa “orientado para o exterior”. Dou preferência a essas traduções “voltado para dentro” e “voltado para fora”, visto que outras traduções, como “secreto”, podem levar a muitos mal-entendidos e serem mal usadas. Na época contemporânea, podemos muito bem ampliar as definições da palavra esotérico como “algo que se tornou claro para mim” ou “acendeu-se uma luz dentro de mim”. Não tem nenhuma importância se esse esclarecimento foi ocasionado por influências exteriores, se foi devido a um aprendizado, ou se aconteceu por um conhecimento interior espontâneo. Com isto, espero que o termo “esotérico” tenha perdido algo de seu sabor elitista e discriminatório.

Espírito ou alma?

Espírito, ou alma? Praticamente, é apenas uma questão de semântica a definição de espírito, ou alma, conforme a expressão dada pela Religião, para definir, embora de um modo bastante genérico, a parte do ser humano cujo vivenciamento é suprafísico.

Tratando-se de algo imponderável e de natureza invisível, porém, não há como entender e conhecer a sua essência, a não ser pela ótica da FÉ – crer e confiar – a qual, porém é confirmada pelas teorias filosóficas e científicas, que procuram dar consistência ao conceito de espírito humano, usando a razão e o bom senso, inclusive com experiências práticas para comprovar a verdadeira natureza da alma.

Há teorias que afirmam ser a alma inteiramente independente do corpo físico, uma entidade separada. Corpo é corpo, alma é alma. E há as que somam a esse conceito a existência da “mente”, algo intermediário entre o corpo e a alma ou espírito, que engloba diferentes funções na vida do ser humano – atividades intelectuais, ligadas ao conhecimento e à instrução, e atividades relacionadas à emoção e ao sentimento, subindo até o nível espiritual. A alma, a parte puramente espiritual e mais elevada do ser humano, é considerada como eterna, não perece com a morte do corpo físico, perpetua-se em mundos invisíveis, desconhecidos, e que por isso seria a realidade mais estável do ser humano.

Para mim, o ser humano divide-se em sete partes, a saber:

ALMA
EGO
MENTE SUBCONSCIENTE
(OU INCONSCIENTE)
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
ESPÍRITO (energia)
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
CÉREBRO
CORPO
MENTE CONSCIENTE

Na parte “imortal”, situam-se a alma, o ego e a mente subconsciente. Já a parte “mortal” é composta de cérebro, corpo e mente consciente. Entre os dois, situa-se o “espírito” ou energia que nos faz movimentar. Mais adiante, dissertaremos sobre cada um dos componentes.

Como você vai ler nestes escritos e em muitos outros de diversas religiões ou mesmo filosofias religiosas, como o espiritismo, a alma confunde-se com o espírito, coisa que não concordo, em absoluto.

Mas recorrendo a Bahá’u’lláh, fundador da Fé Bahá’i, este nos dá alguns esclarecimentos vitais para pelo menos vislumbrarmos a natureza da alma após a morte; na opinião dele, é claro:

“Sabe tu que a alma do homem está elevada acima de todas as enfermidades do corpo ou da mente e é independente delas. O fato de uma pessoa enferma mostrar sinais de fraqueza é devido aos empecilhos que se interpõem entre sua alma e seu corpo, pois a própria alma fica isenta de qualquer mal do corpo. Considera a luz da lâmpada. Embora um objeto externo possa interferir com sua irradiação, a própria luz continua a brilhar sem diminuição de intensidade. Semelhantemente, cada enfermidade que aflige o corpo humano é um obstáculo que impede a alma de manifestar seu poder e força inerentes. Ao deixar o corpo, entretanto, ela mostrará tal ascendência e revelará tamanha influência, que força alguma na terra pode igualar. Cada alma pura, evoluída e santa, será dotada de tremendo poder e com júbilo extremo se regozijará...”

E conclui:
“Sabe tu que, em verdade, a alma após sua separação do corpo continuará a progredir até que atinja a Presença Do Ser Supremo, em uma condição e um estado que nem a revolução dos séculos e eras, nem os acasos e as vicissitudes deste mundo poderão alterar. Durará enquanto durar o Reino de Deus – Sua soberania, Seu domínio e Seu poder. Haverá de manifestar os sinais Divinos e Seus atributos e revelar Sua benevolência e generosidade”.


Sabedoria de vida:

Da premissa de que a realidade mais estável do ser humano é o seu lado espiritual, a existência de uma alma, algo supra físico, a forma ideal de vida diária certamente deve ocorrer sob a ótica da alma. Consciência – o ato de ser consciente – é a natureza permanente da alma humana. Somos o que somos em razão da consciência que temos de tudo o que se relaciona com nosso viver diário, em todos os sentidos. Ser consciente é estar vivo. Sem consciência, estamos mortos. E a consciência realmente é estável. Desde a infância até a morte, a consciência é uma constante no ser humano, a forma de saber e sentir que a pessoa é um ser vivo. Certamente vai se ampliando e tornando-se cada vez mais iluminada no decorrer dos anos, evoluindo, crescendo em conhecimento e capacidade de saber que é, quem é, o que pode fazer e se aprimorando em como fazer. Lamentável, porém, quando o contrário acontece, por inúmeras razões, e a pessoa em vez de evoluir estaciona ou, pior, retrocede, vítima da ignorância e dos impulsos mais baixos dos instintos incontrolados, em vez de luz, aumenta as trevas dentro da consciência. Pode-se dizer também que a consciência é o observador, o ser humano vivo e atuante, a individualidade, com a capacidade tanto de “olhar para dentro de si mesmo”, como para o lado externo de seu ser, através dos sentidos físicos (visão, audição e sensação, em especial), e da psique – emoções, sentimentos e intelecto.

O observador pode ser senhor de si mesmo, pode ser “locomotiva”, autoconsciente e firme na condução de sua própria vida, ou o “trem” que é puxado, “vagão”, um ser que não se governa, vítima de seus próprios caprichos, desejos, apegos, compulsões, carente de força de vontade, subserviente, quase sempre inconscientemente.

Quando o observador é consciente, vê como são transitórias as coisas externas e como é relativo seu valor; são coisas passageiras, não estáveis. Reconhece também o fato de que nossas reações – emocionais e sentimentais – e as que são fruto do conhecimento que adquirimos ao longo da vida, não são o nosso verdadeiro “EU” e sim apenas reações diante dos estímulos externos que recebemos como ‘inputs’ eletrônicos, decorrentes de nossas experiências na vida diária. Consciente, o observador aprende a “viver” no lado estável da vida – no mundo da alma – reconhecendo a relatividade de tudo o mais, em especial as reações chamadas psicológicas, que ocorrem em um nível apenas emocional ou intelectual – nunca na profundidade maior de nosso ser real.

Isso na prática significa que iremos entender claramente que os apegos pessoais, os preconceitos em geral, e as reações do tipo “gosto” “não gosto”, as atitudes mentais que nos mantêm presos a hábitos automáticos de reação – serão todos vistos no seu devido lugar. São vivências diárias, mas que não fazem parte de nossa verdadeira natureza, a parte estável e superior do ser humano – nossa natureza espiritual. Em outras palavras, saberemos que emoções e sentimentos são apenas reações internas da mente, não atingindo a parte estável de nossa verdadeira natureza. Ou seja, não ocorrem na alma onde são gerados os sentimentos superiores, espirituais, e a intuição iluminada, sabedoria, em vez de intelectualidade.

Com isso, poderemos superar hábitos enraizados, que consideramos “nossa segunda natureza”, com o simples entendimento de que não fazem parte de nós, são apenas reações passageiras e como tais devem ser consideradas. São superficiais, volúveis, desaparecem facilmente. Tentam sempre voltar, mas sempre como uma leve garoa, e só se tornam tempestade se nos descuidarmos e deixarmos que grassem à vontade, sem qualquer freio do poder consciente e de nossa alma, nosso SER real.Com o estudo dos textos sagrados das religiões reveladas, aprendem-se quais são as qualidades da alma, conforme reveladas pelos Mensageiros Divinos em todos os tempos, e ficaremos sabendo por que tais qualidades formam a realidade mais importante da vida humana, as quais devemos buscar acima de tudo.

No reino da alma não sobrevivem preconceitos e conceitos negativistas. Lá, não há lugar para maldade ou ódio, e fraquezas e incertezas desaparecem. Pode-se sentir o ar puro e saudável da natureza espiritual, pois no mundo da alma não existe qualquer tipo de poluição mental ou emocional. É outra qualidade de vida!

Na consciência da alma a pessoa reconhece claramente como são relativos os apegos às coisas materiais, e instáveis as emoções e sentimentos de ordem pessoal, os quais podem ser controlados e superados, mantendo-se sempre vigilante e consciente de sua natureza superior, o verdadeiro “EU”, que a Bíblia se refere “a imagem e semelhança de Deus”.Antes de terminar esta primeira aula, permita-me contar uma antiga história que muito pode lhe ajudar na busca pela iluminação através do esoterismo.

Certa vez, no Extremo Oriente, um jovem discípulo procurou um mestre tido como um iniciado. Pediu que este lhe desse instruções sobre o esoterismo e a iniciação. No Oriente, é costume o discípulo conviver como membro da família do mestre, ajudando-o tanto espiritualmente como com a prestação de serviços. Deste modo, o mestre deu ao jovem a sua louça suja para que a lavasse lá embaixo nas margens do rio, dizendo-lhe que, depois que tivesse cumprido aquela tarefa durante seis meses, ele lhe revelaria os mistérios.

O discípulo dedicou-se com afinco a essa tarefa banal, lavando diariamente a louça do mestre, contando os dias até se passarem seus meses. Em seguida, apresentou-se novamente diante do mestre, pedindo-lhe a iniciação. No entanto, este lhe disse: “Só poderei iniciá-lo depois que lavar minha louça suja durante mais doze meses”. Sentindo-se logrado, o aluno percebeu a raiva brotando em seu coração. Mas, como era esperto, não deixou que o mestre percebesse sua disposição e voltou ao rio, resmungando consigo mesmo. Depois de um ano, apresentou-se outra vez ao mestre e pediu-lhe a prometida iniciação, ouvindo dele a seguinte resposta: “Só poderei lhe dar o que me pede depois que lavar minha louça por mais dois anos na beira do rio.” Desta vez o discípulo não sentiu raiva, apenas uma profunda tristeza por ser tão difícil ter acesso aos grandes mistérios do mundo. Voltou ao rio e, lavando a louça, pensou: “Já que lavo esta louça há um ano e meio, tanto faz lavá-la por mais dois anos.” Após um ano, subitamente, o mestre foi ao seu encontro nas margens do rio, dizendo-lhe: “Você é um discípulo paciente e esforçado. Provou ser digno de ser iniciado nos grandes mistérios e vim para erguer o véu que encobre o oculto”. Entretanto, sorrindo, o discípulo balançou a cabeça e respondeu: “Isso já não é mais necessário. Em todos estes anos passados aqui junto ao rio, meus ouvidos se abriram, e suas ondas, o sussurro do vento, o canto dos passarinhos, o sol, a lua, e até mesmo a sujeira da sua louça há muito me desvendaram os segredos”. Diante disso, o mestre acariciou a cabeça do discípulo e disse: “O seu período de aprendizado terminou. Seja bem-vindo ao círculo dos mestres. Agora vá e ensine o que aprendeu aos outros”.

Até a próxima...

 

Texto colaboração: Professor Carlos Rosa: (falecido em 12 de fevereiro de 2019)

 

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