O poder da delicadeza
Continuando a nossa saga de levar ao gentil e educado leitor deste portal, um pouco de sabedoria na arte do “bem viver”, recorro desta vez a algumas “pérolas de delicadeza” que em muito modificaram quem as ouviu e principalmente quem as vivenciou. Infelizmente, pouco ou nada encontramos em nossos autores patrícios, tendo de recorrer aos estrangeiros, pródigos em registrar os feitos de seus conterrâneos. Mas vamos a eles, pois o espaço é pequeno para tantas exaltações.
Começamos pela corte francesa. O rei Luiz XIV, cognominado “rei sol”, era dado a fazer versos. Graças a Deus poucos chegaram até nós.
Certo dia o rei acordou “inspirado” e trancou-se em seu gabinete, só saindo de lá por volta das seis horas da tarde, o que deixou “preocupados” os áulicos palacianos.
- Por favor, senhores, sentem-se – disse o rei – adentrando ao grande salão, segurando alguns papeis.
E, para espanto geral, durante trinta minutos declamou, ou melhor, balbuciou os mais horrendos versos que já se tinha ouvido. Ao término da leitura, perguntou:
- Pois bem, senhores, que acharam dos meus versos?
O silêncio era sepulcral. Ninguém se atrevia a dizer que “aquilo” tivesse algum valor literário. Porém, para espanto de todos, Boileou, seu ministro plenipotenciário, pedindo permissão para falar, disse:
- Sire, nada é impossível a Vossa Majestade; quando quereis, até maus versos és capaz de fazer.
Esta vem da terra do Tio Sam e passou-se no início do século XX.
O chefe de polícia de Nova Iorque, Sammer, era de excessiva gentileza. Prendendo um dia, um criminoso procurado pela justiça, pediu-lhe desculpas por ter lhe pisado no pé.
O fora da lei, irônico, não pôde deixar de retorquir:
- O senhor é o homem mais gentil e educado do mundo, senhor Sammer. Quando for enforcado, desejo que seja pelas suas mãos.
Esta “pérola” aconteceu no reino da Holanda, no fim do século XIX.
Num domingo de primavera, um jovem muito elegante, entrando numa igreja em Haia, sentou-se em uma cadeira junto ao púlpito.
Alguns instantes depois, já com o local quase lotado, chega uma “senhora” com ares de superioridade e, vendo um estranho sentado na “sua” cadeira favorita, irrita-se e ordena ao estranho que se retire imediatamente, não sem antes lhe dizer que ele deveria se colocar no “seu lugar”.
O jovem não protestou e, respeitosamente, desculpou-se pelo incidente, indo sentar-se num dos bancos destinados aos pobres, assistindo dali o ofício religioso.
Ao término da missa, uma senhora da sociedade local acercou-se da “dona” do assento e lhe perguntou:
- Acaso a senhora sabe quem expulsou da sua cadeira?
- Provavelmente algum turista idiota – disse com indiferença.
- Creio que a senhora se enganou – disse a primeira – pois ele é simplesmente Sua Majestade, Oscar, rei da Suécia, em visita ao nosso país.
Para terminar por hoje, esta “pérola rara”:
Em um hotel de Nova Iorque, existia um funcionário que era ao mesmo tempo recepcionista, garçom, camareiro e, principalmente, amigo dos hóspedes.
Certa manhã, quando entrou para trabalhar, encontrou um velho cliente da casa completamente irado e fazendo grande agitação na recepção do hotel.
O nosso homem aproximou-se do hóspede nervoso e com uma calma impressionante, perguntou:
- Quando o senhor chegou?
- Ontem à noite – respondeu o hóspede aos berros.
- Espero que lhe tenham dado um bom quarto – disse o funcionário do hotel sem se perturbar.
- Ao contrário – gritou o homem – alojaram-me no sótão, em um compartimento tão pequeno que não há espaço para fazer rodopiar um gato – acrescentou.
Imperturbável, o brioso funcionário emendou:
- Oh! Certamente o recepcionista da noite não soube que o senhor havia trazido vosso gato. – e continuou – Por favor, deixe por minha conta; após o almoço, eu vos acomodarei da melhor forma possível em um quarto suficientemente grande para alojar meia dúzia de gatos – disse impassível o funcionário exemplar.
Seguiu-se esplêndida risada a essa hábil ironia e o hóspede que pretendia retirar-se, almoçou alegremente, permanecendo no hotel.
Existem dezenas de outras histórias parecidas com estas, mas o que estas encerram já é o bastante para a nossa finalidade.
Além de gentis, os protagonistas destas histórias possuíam estima própria – predicado essencial à formação do caráter.
O segredo da vitória na vida é não nos preocuparmos com o que nos possa acontecer no desenvolvimento das nossas pretensões, não nos afastando um instante sequer do fim a que nos propomos.
Devemos confiar em nosso esforço íntimo e espontâneo, e com certeza venceremos, embora alguns pensem o contrário. Jamais seremos bem sucedidos na vida se não possuirmos confiança própria e se não agirmos com gentileza e delicadeza para com todas as pessoas.
Texto de: Prof. Carlos Rosa - Ph.D em Patologia Social, Numerólogo Cabalístico e diretor da Academia Brasileira de Numerologia Cabalística
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Publicado no Jornal O Legado – Fevereiro 2004
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