A minha grande novidade pra 2015 é que comecei o ano mãe. A Luiza, minha filha, nasceu dia 23 de novembro 2014, de parto normal.

Nesse tempo todo, desde a gravidez até agora, tenho refletido muito sobre esse momento, do nascimento. E, num momento em que tem se discutido o excesso de cesárias no Brasil, ter um filho de parto normal é um tema a ser discutido.

Sabemos dos motivos objetivos para muita gente fazer cesária hoje em dia: os planos de saúde pagam mais, é mais confortável para os médicos que não precisam ficar à disposição o tempo todo, já que assim podem agendar dia e horário, é mais rápido, etc. Mas o que mais pode estar envolvido? Penso muito na jornada do herói, descrita por Joseph Campbell, que todos vivemos o tempo todo.

A própria vida é uma jornada cheia de aventuras, desafios e capacidade de superação. Dentro da vida existem também as jornadas menores pelas quais vivemos nos aventurando: um casamento, separação, um novo emprego, um mestrado, a gravidez, etc. E a primeira delas é justamente o nascimento. Um bebê já nasce enfrentando a difícil tarefa de sair de seu ambiente confortável e aconchegante, seu lugar seguro e “mundo comum” (descrito por Joseph Campbell), para vir a um mundo cheio de desconfortos e desafios. Na hora de nascer, o bebê recebe um “chamado” e, na hora certa, anuncia que está chegando a hora do parto.

Como o próprio nome diz, trabalho de parto é um trabalho. Em geral é longo, dolorido, cheio de desafios. Tudo isso é necessário para que o bebê venha ao mundo o mais preparado possível, pois vive a aventura do parto, e ao viver a jornada, já está pronto para iniciar essa nova e longa aventura, que é a vida.

A mãe também precisa dessa jornada, para que esse encontro com esse ser que vai mudar pra sempre sua vida seja o melhor possível. Mas como fica isso quando acontece uma cesária? Por um lado, não precisa haver um problema. Vai nascer uma criança do mesmo jeito, assim como essa nova mãe. Mas é tudo muito mais rápido e com um pouco menos de preparo.

Vamos imaginar que você está dormindo em sua cama, no quarto quentinho e confortável. Então vem alguém e te arranca de lá, te joga no mundo. É mais ou menos isso que acontece com um bebe quando nasce de cesária. Ele não se preparou pra isso. Não significa que isso trará necessariamente um problema. Aliás, temos que ser gratos pelas cesárias que salvam vidas das mães e seus bebês. Mas elas deveriam ser restritas aos casos em que são de fato necessárias. E só deveriam ser agendadas se a mulher não puder ter, de jeito nenhum, um parto normal. E no mais deviam acontecer nos casos necessários, quando há uma intercorrência durante o trabalho de parto, que é também um aviso do bebe de que ele já está pronto pra vir ao mundo.

A hora do nascimento de alguém é tão importante que determina o mapa astrológico, no qual está escrito toda nossa jornada de vida. Esse mapa é determinado por dia, mês, ano, horário e cidade de nascimento. É como cada minuto faz diferença, para elaborar um mapa astrológico, o horário deve ser preciso. Fora isso as condições do parto também estão no mapa. Aliás, toda gestação também está. Ou seja, olhando um mapa é possível saber como foi a gestação, e também o parto. E como o parto está descrito no ascendente de alguém, isso também significa que a forma como nascemos e as condições desse nascimento também vão interferir em nossas atitudes, forma de expressão, personalidade e comportamento. E isso, claro, não tem a ver só com o tipo de parto em si. Tem a ver com as condições gerais. Se foi fácil, se houve acolhimento, como a mãe se sentiu, como foi recebido e tantos outros fatores.