No artigo anterior (parte 1 – fevereiro 2016), abordaram-se aspectos introdutórios sobre os temas harmonizações energéticas e funções do Feng Shui Tradicional. Nesse mês, serão incorporados alguns conceitos referentes à linguagem oriental, a maneira simbólico-poética em que os chineses incorporam sentido, significado e fundamento no trâmite entre vida cotidiana e visão metafísica.
Para tanto, antecipadamente se explicita uma observação: talvez a maioria das informações apresentadas possuam uma visão peculiar do autor, quiçá até se chocando com algumas “verdades” famosas, tão defendidas categoricamente por mestres ortodoxos e tradicionalistas do assunto. Naturalmente, o intento não é criar polêmica desmedida, mas proporcionar reflexão pela dialética, se possível através de uma que seja no mínimo intrigante; assim, cabe ao leitor o convite a um ponto de vista mais neutro num primeiro momento, para posteriormente (sobretudo no caso de pesquisadores no assunto), estabelecer uma ponte do que é relevante enquanto conteúdo e metodologia aplicada.
Num primeiro instante, serão apresentadas, de maneira resumida, duas bases estruturais da visão energética-sutil chinesa, que provavelmente permeavam o pensamento e índice cognitivo de muitos dos estudiosos ancestrais que, posteriormente, puderam edificar os complexos códigos dessa sabedoria em seus vários ramos, como a Medicina Chinesa, o Qi Gong, a Cosmologia ou o Kan Yu. Serão realizadas correlações com algumas analogias do cotidiano, perspectivas de vida e comportamento, procurando, assim, estimular um referencial dinâmico.
Tai Ji Zun (ou aspectos do Yin e Yang)
Na cultura chinesa, compreender o Dao (Tao) era um tema recorrente na Tradição Mi Jun (algo como “Consciência Reflexiva”). Os grandes mestres, como Lao Ze e anteriormente Fu Xi, tentaram explicar a chamada “Essência Intocável”; para eles e outros sábios taoistas, tudo era manifestado através de um Vazio em potencial de realização (Wu Ji). Dele, o sentir per si permite o surgimento das polaridades primárias referenciais, o Yin e Yang, e a partir das relações dinâmicas entre ambas, o sentido de transformação e movimento do Tai Ji.
As transformações qualitativas desse símbolo, mesmo parecendo complexas, podem ser vistas de maneira análoga a uma forma mais caótica ou lúcida de experienciar a existência como um todo. Assim:
• Oposição: Yang e Yin são duas polaridades opostas de uma mesma manifestação, como Céu e Terra, Luz e Escuridão, Masculino e Feminino, etc. Representa a fase da dualidade, da visão muitas vezes fragmentada da alegria e tristeza, do bem e mal absolutos que lutam incessantemente anulando um ao outro. No sentido primário maniqueísta, os polos são diametralmente opostos em termos qualitativos, com a ideia que a noção de que a estabilidade / manutenção de um depende em sobrepujar ou eliminar o outro;
• Interpolação: os dois aspectos Yang e Yin podem transmutar-se entre si. Isto acontece quando um sistema chega ao extremo, um dos lados acumulando energia em demasia e sendo rapidamente transformado no outro. Uma analogia consciencial poderia ser o do potencial kármico (enquanto fator atrator de uma experiência por carência de compreensão);
• Intertransformação: nesse momento perceptivo, observa-se não mais um combate rígido das forças contrárias Yang / Yin, mas sim um processo de transformação de uma energia na outra. O Yang indubitavelmente tende ao Yin e vice-versa, como a noite que se transforma no dia, e na vida se direciona à morte. Nesse ponto, o sentido de tempo e ritmo se torna evidente; com a percepção mais clara da relatividade e mutabilidade da vida;
• Complementaridade: tem-se a compreensão de que o Yang e Yin são indivisíveis e que uma não existe sem a outra. O Alto só é devido ao Baixo, e o Masculino só reconhecido como tal por causa do Feminino. Os opostos que se complementam e dialogam constantemente inserem um novo fator:
- Auto complementaridade: o Yin surge no ápice do Yang e vice-versa, manifestando não apenas a coesão de um com o outro estaticamente, mas um dentro do outro, dinamicamente. De maneira figurada, talvez um exemplo oportuno seja o do surgimento das imensas oportunidades de mudança e transformação pessoal no ápice da instabilidade e de momentos de incerteza, como parece ser o momento atual;
• Vazio Compreendido: quando os quatro tópicos anteriores são compreendidos, o Wu Wei (receptividade equivalente, geralmente traduzido como Não Ação) é finalmente assimilado na expressão natural de si no mundo, tornando cada movimento pleno e responsável. Manifesta-se o Dao (Tao) no cheio, a experiência de viver como uma escolha cocriativa, imanente e livre, não focada num ideal de felicidade estática nem transcendental da própria vida, mas sobretudo, num potencial constante de devir;
Qi (Chi) como Energia Metabolizada Neutra e o Olhar do Homem
Muitos místicos consideram o Qi como uma essência ou substância responsável por tudo que existe no universo, permeando e compreendendo tudo. Costuma ser evidenciada como uma força primordial e nutridora que está no centro do crescimento e desenvolvimento do cosmos, Terra e humanidade, não existindo um termo que possa traduzir essa palavra nas línguas ocidentais de uma forma não vinculada a conceitos metafísicos. A tradução poética “sopro da vida” ou “sopro cósmico”, bem com os termos Ki (japonês), Prana (hindu), Orgone (Wilhelm Reich), Axé (terminologia africana) são alguns sinônimos comumente encontrados. É interessante notar como, até mesmo para os nativos orientais, o termo Qi tem descrições, conceitos e aspectos variados. Nesse sentido, essa amplitude se assemelha ao que hoje se designa “energia”, um termo tão abrangente em termos científicos quanto esotéricos.
Uma maneira de se entender o Qi é considerar a referência consciencial. Nesse sentido, Consciência não se refere aqui ao ato de se estar consciente de algo ou no sentido transcendental da palavra, mas como o “Ser Sensação” (ou algo) que reafirma a existência de si pelo processo de sentir a si mesmo, isso tanto no corpo físico (pela interpretação das experiências no tempo-espaço ancorado, no caso do homem) quanto no seu aspecto espiritual, pelos chamados “veículos da Consciência” (corpo emocional – necessidade de experiência comparada, e corpo mental – estado de compreensão conjugado). Utiliza-se, neste ponto, o pressuposto da viabilidade da manifestação da vida além dos limites materiais.
Sob esse viés, a função da Consciência (o chamado “Eu Superior” em algumas culturas esotéricas) seja talvez (e “apenas”) se transformar, continuamente e sem fim, a cada novo entendimento em direção à compreensão de um aspecto de si (abarcamento) e não necessariamente evoluir, chegando a algum lugar, patamar ou mesmo voltar a uma essência perdida ou maior.
A partir dessa crença singular, estende-se o princípio para escalas maiores, chamando-se de Super Consciências os corpos de grande massa (planetas, estrelas, buracos negros, etc) que estão sentindo a si (talvez em nível cósmico) e proporcionando índices específicos para outras Consciências compartilharem suas necessidades de experimentação. Não seria o caso também dos seres vivos no planeta Terra, ampliando assim o conceito de Gaia dos antigos?
O pano de fundo das relações entre as Super Consciências seria o que se denomina de Energia Cósmica, Sideral ou Imanente. Base de toda a realidade, se fundamenta no princípio da manifestação de tudo que existe, conexão de todas as coisas no universo. É uma energia primordial que não seria absorvida e manipulada diretamente pelo homem; é capturada somente por consciências mais maduras, representadas por corpos de grande massa (planetas, estrelas, sóis, buracos negros, etc), que por sua, vez, conseguem curvar o Espaço-Tempo, “moldá-los” e estruturá-los da maneira como conhecemos.
Sob esse viés, o Qi como Energia Metabolizada Neutra é, em suma, o resultado da interação entre a Energia Cósmica e as Consciências Maduras (sóis, estrelas, etc). Tais corpos de grande massa “polarizam” essa energia primordial com um potencial de sentimento-intenção (assinatura), mas mantendo uma qualidade neutra (sem emoção ou julgamento). Esse tipo de energia se torna “absorvível e utilizável” pelos corpos de pequena massa (como os seres vivos). Assim, Energia Pessoal ou Emocional se refere àquela que é “polarizada emocionalmente”, prioritariamente pelos humanos, animais, etc. Trata-se da transformação dessa energia neutra (Qi) para uma característica “descritiva” e individualizada. É uma energia repleta de cunho emocional-racional, fruto dos julgamentos, observações e posturas. Nesse aspecto, fica uma pergunta: como estaria a condição ética do homem enquanto potencial co-criador nos dias de hoje?
Momentos Energéticos - Desafios Globais e Pontuais
A análise do fator Tempo pela visão chinesa evidencia um ponto de vista cíclico (e não linear) das ocorrências, sendo que ciclos menores (horas, dias, meses e anos) se intercalam e sincronizam a voltas maiores (9, 10, 20, 60, 180, 540, 3600 anos, etc), cada um desses índices se referenciando a um tipo de calendário (solar ou lunar) e a códigos repletos de conceitos embutidos que agregam significado a uma leitura global, regional ou pessoal.
O ano de 2016 está sendo regido pelo binômio Bing Shen (Macaco de Fogo Yang) e pela Estrela Preta 2, estando o planeta situado dentro de um Período de 20 anos (2004 até 2024) vinculados à Estrela Branca 8. Entretanto, em vez de se tentar explicar com exatidão os complexos conceitos por trás de tais terminologias, bem como diluir a reflexão em rasas (e comumente bizarras) dicas rápidas geralmente resumidas em predição cega ou qual cor de vestuário se deveria usar durante o ano para se estimular prosperidade e relacionamentos, preferir-se-á analisar os desafios energético-sensíveis que a humanidade está provavelmente vivenciando e que o autor denominou como Novos Tempos. Descreve-se esse momento como uma provável mudança estrutural ocorrida no fim de 2012, que acarretou numa modificação global do potencial material e suas consequentes repercussões. Naturalmente, não se tem a intenção de se aprofundar nessa análise, mas fundamentar algumas referências para os estudiosos.
Parte-se do pressuposto de que o resultado do que conhecemos (ou conhecíamos) como equilíbrio dinâmico dos aspectos físico-energéticos se baseia numa interação de relações complexas provenientes não somente do planeta, o que denominamos de Natureza (Di Qi) e de nós mesmos (Ren Qi), como também das inter-relações gravitacionais da Terra com o sistema solar, as estrelas da nossa e de outras galáxias os e buracos negros, próximos e distantes (Tian Qi). Sobre esse aspecto, uma modificação nesses eixos de estabilidade “cósmica” poderia gerar um efeito que modificaria, em tese, o funcionamento do que se conhece como realidade física. E parece que foi isso que aconteceu.
Como processo, naturalmente tal condição vem num crescente secular, no que se pode denominar de sutilização da matéria. Nos anos recentes, os choques energéticos vinham sendo cada vez mais constantes e menos espaçados (mais do que nas últimas décadas), sendo que alguns deles tiveram grande intensidade e impacto (tendo o seu ápice em 2012).
Sutilização refere-se ao processo que culmina na diminuição da “densidade material”, fazendo que a mesma se torne, como o próprio termo explicita, mais sutil, menos estável e muito mais influenciável pela comunicação proveniente do intercâmbio energético-espiritual. Em suma, estamos mais sensíveis, percebendo mais as instabilidades emocionais que antes eram passiveis de serem mascaradas razoavelmente e as incertezas da própria existência, acelerando o que os físicos teóricos provavelmente chamariam de colapso das probabilidades da função de onda quântica e, por conseguinte, estimulando, sobretudo, as somatizações desses potenciais reativos / caóticos no processo biológico da vida. Sob esse ponto de vista, podemos dizer que estamos cada vez mais responsáveis pelas consequências das nossas escolhas e pela manutenção da energia pessoal partir de agora, o que nos torna, em parte, co-criadores (não no mero sentido “místico new age do amor incondicional” ou no pensamento positivista da autoajuda), mas na reflexão das posturas mais intrínsecas que reverberam no Ser.
Desta feita, duas perguntas poderiam ser explicitadas nesse instante, com implicações que procurarão ser esclarecidas nos próximos artigos: Os conceitos sobre o Yin-Yang e sobretudo o Qi não seriam completas em si (sendo verdadeiros códigos da natureza) e, por conseguinte, não necessitariam de revisões e adaptações sutilmente sugeridas pelo autor? Supondo que tal mudança estrutural esteja realmente ocorrendo, como estão as curas e harmonizações no Feng Shui?
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