A paixão, aquele sentimento inicial de todo relacionamento amoroso, arrebatador e praticamente instintivo, nos leva, muitas vezes, a fazer loucuras. A paixão é necessária à preservação da espécie, diz a ciência, mas tem tempo para acabar e vira nossa vida do avesso. E aí, ela é aliada ou inimiga?
Uma coisa é certa: quando nos apaixonamos, não vemos o objeto da paixão como ele realmente é, mas como nós o imaginamos. Isso significa que nos apaixonamos por uma idealização, por um sonho, por algumas expectativas. Assim explica Camilla Couto, Orientadora Emocional para Mulheres, com foco em Relacionamentos. Segundo ela, isso acontece com todo mundo e é plenamente normal: “a paixão é o mecanismo que nos faz buscar relacionamentos e, por isso, ela pode ser bastante benéfica, pois pode até nos ajudar a quebrar nossas crenças limitantes e transpor barreiras emocionais que nos impomos. Por outro lado, viver o relacionamento com base nas nossas imagens e idealizações pode ser bem frustrante. É por isso que a paixão tem prazo de validade”.
Conforme lembra Camilla, a paixão atua praticamente como uma espécie de droga no nosso organismo, liberando, de forma intensa e contínua, neurotransmissores que nos causam a sensação de euforia e prazer, como a dopamina e a noradrenalina: “fisicamente, somos inundados por sentimentos novos, inusitados, que nos enchem de convicção – por isso, quando apaixonados, às vezes tomamos decisões que fogem do habitual. Loucura? Não, apenas nossos instintos que estão mais ativos, por assim dizer”.
Acontece que, como ela explica, ninguém conseguiria viver dessa forma por muito tempo: “os relacionamentos, mesmo que precisem da paixão para começar, também necessitam de calma e de sentimentos mais maduros para durarem no tempo. Por isso, com o passar dos meses, a paixão dá lugar ao amor ou à decepção – dependendo do quanto idealizamos a pessoa e do quanto nos identificamos com o que vamos descobrindo sobre ela. Tendemos a achar que, passada a paixão e a loucura inicial (inundada por hormônios), o outro tenha mudado. Mas, na maioria das vezes, não é bem assim. É que, com o tempo, nossas fantasias vão dando lugar à realidade”, enfatiza.
“Há quem diga que a paixão possa durar até 30 meses, ou seja, mais de dois anos. É bastante tempo para viver em estado de euforia, não é mesmo? A questão é que pode ser tempo demais para estarmos envoltos em uma nuvem de expectativas, cegos por nossas próprias idealizações que, na maior parte do tempo, não condizem com a realidade! As chances do outro não ser tudo aquilo que você acha que vê e imagina são enormes. Mas não porque ele ou ela esteja te enganando ou porque mudou radicalmente e, sim, porque vocês estavam apaixonados”, explica Camilla. A paixão faz com a que a gente enxergue só o que a gente quer, do jeito que a gente quer, e com o outro também acontece o mesmo. E é por isso que acontece a chamada “crise dos dois anos”.
Para Camilla, paixão é vida, estar apaixonados nos faz felizes, nos faz sentir mais leves e devemos, sim, ter inclusive mais paixões ao longo da vida – não apenas por pessoas, mas por conhecimento, lugares e atividades: “alimentar a paixão quando estamos vivendo um relacionamento longo também pode ser bastante positivo. Surpresas, declarações de amor, jantares românticos, de vez em quando, não faz mal a ninguém, não é mesmo”?
Mas ela lembra: “o que a gente não deve fazer é se deixar viver APENAS de paixão. Nesse caso, estaremos em contato constante com a decepção e aí, viveremos pulando de relação em relação, de emprego em emprego, de amizade em amizade. O segredo é ter a consciência de que a paixão existe e faz parte, mas não é tudo. É preciso racionalizar um pouco as coisas, é preciso manter os pés no chão e os olhos abertos para enxergar a realidade. Sim, porque, quando a liberação de neurotransmissores muda, sobra apenas a realidade”.
E como racionalizar ante a euforia da paixão? Camilla dá a receita: “com autoconhecimento. Quando sabemos o que realmente nos faz bem, o que desejamos de verdade em nossa vida, quais os nossos objetivos, fica mais fácil fugir das armadilhas da paixão. Não é o caso de não nos permitir viver essa loucura. Mas o de entender até onde nossas experiências são reais e de colocar nossos próprios limites”, explica. Assim, uma grande paixão pode se transformar em amor, porque será embasada pelos nossos desejos genuínos e permitirá que a gente se abra e se entregue para a pessoa certa. “Viver a paixão requer não só boas doses de coragem como também de sabedoria”, finaliza.
Fonte: Camilla Couto é Orientadora Emocional para Mulheres, com foco em Relacionamentos. Criadora/ autora do Blog das Amarildas e fundadora do PAR - Programa Amarildas de Relacionamentos. Orientadora emocional, Terapeuta Floral (TF-153-17/SP) e Contoterapeuta, viveu durante 8 anos no exterior conhecendo diferentes culturas e comportamentos. www.amarildas.com.br
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