O consenso é que no rol de cuidados não podem faltar remédios, atividade física aeróbica e uma boa alimentação.

 Dor nos ombros, nos braços, nas costas, nas pernas, na cabeça, nos pés. Quem tem fibromialgia conhece bem o corpo, pois todo ele reclama. A ponto de, em momentos de crise, um toque delicado incomodar. Pessoas que apresentam este quadro clínico sofriam duplamente, pois a doença demorou a ser reconhecida como um mal físico. “A fibromialgia já foi confundida com depressão e estresse. Por falta de informação — e diagnóstico —, os pacientes ainda tinham que sofrer na alma o transtorno que a dor já impingia ao corpo”, afirma o geriatra Eduardo Gomes de Azevedo, diretor da rede de Clínicas Anna Aslan.

Agora, com o avanço dos estudos e pesquisas, as evidências comprovam que a fibromialgia é doença física, sim. Não se trata de uma síndrome invisível. Há trabalhos científicos mostrando que o portador apresenta alterações na anatomia cerebral. Um desses estudos foi apresentado no final de 2008, na França. Graças a um exame por imagem chamado Spect -  tomografia computadorizada por emissão de fóton -, os médicos do Centro Hospitalar Universitário de La Timone, em Marselha, constataram que no cérebro de 20 mulheres com esse tipo de hipersensibilidade havia um fluxo maior de sangue em regiões que identificam a dor. Paralelamente, notaram uma queda de circulação na área destinada a controlar os estímulos dolorosos. Nas dez voluntárias saudáveis que participaram da pesquisa, nenhuma alteração foi detectada. Este trabalho se soma a outros dados consagrados sobre a presença do distúrbio, como o aumento dos níveis de substância P, o neurotransmissor que dispara o alarme dolorido e a menor disponibilidade de serotonina, molécula que avisa ao sistema nervoso que a causa da dor já passou.

Confirmada que a fibromialgia está longe de ser uma doença psíquica, a pergunta que ainda não foi respondida é por que a doença surge. “Quando soubermos a sua origem, conseguiremos acabar com a causa e encontrar a cura”, diz o médico. Por enquanto, o que se conhece são os gatilhos do terrível incômodo — fatores que desencadeiam a crise, como o estresse pós-traumático —, além dos meios de minimizar o quadro e devolver qualidade de vida aos pacientes. 

Tratamento melhora a qualidade de vida

Muitos profissionais de saúde acreditam que, no futuro, a associação de drogas como antidepressivos e neuromoduladores terá efeito sinérgico na briga contra a dor. É que, enquanto o antidepressivo eleva a oferta de serotonina e noradrenalina, sedativos naturais do sistema nervoso, os neuromoduladores alteram a transmissão do estímulo doloroso para o cérebro, diminuindo os níveis da tal substância P.

Já as drogas como os opióides, com exceção do tramadol, não são muito eficazes no tratamento de pessoas fibromiálgicas. “O consenso é que no rol de cuidados não podem faltar remédios, atividade física aeróbica e uma boa alimentação. Um exemplo: caminhar de três a quatro vezes por semana, durante 30 minutos, libera substâncias prazerosas como as endorfinas e relaxa a musculatura. Alguns portadores que seguem esse receituário chegam até a dispensar a medicação”, diz o geriatra Eduardo Gomes de Azevedo.

O médico, que também é adepto da prática ortomolecular, conta que durante o tratamento, é preciso “ensinar ao paciente algumas artimanhas para evitar os fatores estressantes, que são gatilhos para a dor. Técnicas de respiração, de relaxamento e de visualização, em que o indivíduo imagina caminhos para o alívio, são alguns exemplos”, diz Eduardo Gomes.

Importância da terapia nutricional

Quem apresenta quadros de dores crônicas precisa de proteína, ferro, cálcio e vitaminas do complexo B. Os medicamentos costumam dificultar a absorção desses nutrientes e essa carência pode estar relacionada ao aumento do desconforto generalizado. “Se há falta de proteínas, o corpo vai ‘roubá-las’ dos músculos, que ficam ainda mais sensíveis”, explica a nutricionista Renata Rothbarth, que integra o corpo clínico das Clínicas Anna Aslan.

A seguir, a nutricionista lista alguns alimentos que devem fazer parte da dieta do paciente fibromiálgico:

Triptofano
Aminoácido antidepressivo que ajuda a sintetizar a serotonina. A serotonina ajuda a regular a sensação de dor, do humor e do sono. Fontes alimentares: ovos, carnes, leite, banana, iogurte, queijo, frutas secas, ômega 3 e chocolate.

Magnésio 
Mineral que ajuda no relaxamento dos músculos. Função: síntese protéica, contractilidade muscular, excitação dos nervos. Fontes: cereais integrais, vegetais verdes escuros, nozes, damasco seco, gérmen de trigo, grãos de soja, carnes, leite.

Cálcio 
Mineral importante para contração dos músculos. A falta de cálcio pode causar câimbras. Fontes: leite e derivados, coalhada, queijo, couve, brócolis, flocos de cereais, gergelim, amêndoas, castanha do Pará, farinha de soja.

Vitamina E 
Ajuda na prevenção de câimbras nas pernas, que costumam acontecer por causa do aumento da circulação sangüínea. Função: Potente antioxidante. Previne danos à membrana celular e aumenta a absorção de vitamina A, além de proteger as hemácias. Atua também na manutenção do tecido epitelial. Fontes: nozes, germe de trigo, carnes, amendoim, gema de ovo.

Manganês
Estimula atividades enzimáticas, tais como antioxidação e produção de energia. Fontes: cereais integrais, avelã, grãos de soja.

 
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